Discurso do Secretário Geral do Hezbollah, Sayed Hassan Nasrallah, sobre os recentes incidentes nacionais e regionais, na noite da segunda feira, 18 de outubro de 2021 às vinte horas
Redação do site
O secretário-geral do Hezbollah, Sayed Hassan Nasrallah, comentou pela primeira vez sobre o massacre de Tayouneh, no qual sete partidários do Hezbollah e de Amal foram assassinados a sangue frio por atiradores das Forças Libanesas.
Durante um discurso transmitido nesta segunda-feira à noite, 18 de outubro no canal Al Manar, Sayed Nasrallah afirmou a posição do líder das Forças Libanesas como um assassino e criminoso, e como sempre os seus atos indicam diversas tentativas de levar o país a uma nova guerra civil.
Aqui estão os principais pontos de seu discurso:
Meu discurso de hoje é dedicado ao massacre da quinta-feira (14 de outubro).
Mas, primeiro, gostaria de dar os meus parabéns a todos os muçulmanos pelo aniversário do Profeta Mohamed (S). Apesar de nossa dor, teremos uma cerimônia nesta ocasião na próxima sexta-feira.
Saúdo a massiva participação dos iemenitas nas grandiosas festividades do Mouled do Profeta Mohamed (S), expressando o nosso orgulho pelas posições corajosas tomadas pelo líder de Ansarullah no Iêmen, Sayed Abdel Malek Al-Houthi, que Deus o proteja.
Ofereço minhas condolências aos mártires da Mesquita de Kandahar que foram mortos pela organização terrorista Wahhabi, criada e patrocinada pelos Estados Unidos e financiada pelos países do Golfo. Também estendo minhas condolências ao governo e ao povo sírio, bem como aos habitantes do Golã Sírio ocupado, pelo martírio do ex-detento mártir Medhat Saleh, morto pelos sionistas.
Sobre o perigoso caso da quinta-feira que levou a um massacre, dirijo a minha palavra aos familiares dos mártires compartilhando a nossa dor e a nossa tristeza pelas perdas e orando a Deus pela rápida recuperação dos feridos.
FL busca criar um inimigo fictício para os cristãos
Os últimos eventos que ocorreram constituem um ponto de uma inflexão perigoso e requerem análise a fim de estabelecer uma posição para o presente e o futuro.
Há um partido no Líbano que procura criar um inimigo fictício para os residentes de Ain Remmaneh, Hadath e Furn AL Chebbak. O líder deste partido insiste que os moradores dessas regiões (muçulmanos e cristãos) sintam medo e raiva um do outro, fomentado as ideias que os muçulmanos nessas regiões, especialmente nos subúrbios do sul, são uma ameaça constante para eles, o motivo pelo qual as cristãs devem permanecer em estado de alerta.
Quando este partido e seu líder se dirigem ou se encontram com cristãos no Líbano, descobrimos que todas as reuniões se concentram em deixar os cristãos no círculo da preocupação por sua existência, sua sobrevivência, sua liberdade e sua parceria com os muçulmanos. Qualquer pequeno incidente ou mal entendido que possa ocorrer é explorado abertamente para despertar o medo e a angústia dos cristãos por sua existência. Além disso, o grupo assassina que empunhou as armas contra os manifestantes, foi chamado de resistência cristã.
Ao despertar esses medos e semear a discórdia, a FL pretende se apresentar como defensora dos cristãos que preservam seu sangue e sua honra.
O objetivo é atingir metas relacionadas à liderança e hegemonia desse partido em papéis que atendem a uma agende externa.
Após o massacre, sou obrigado a falar das Forças Libanesas e seu líder. Nos últimos anos, nunca atacamos ou respondemos aos insultos dos dirigentes da FL nas redes sociais que os pertencem porque não queríamos tensões.
A guerra civil é o objetivo da FL
O líder do FL já foi condenado pela justiça libanesa pelos crimes que lhe são atribuídos. Após sua saída da prisão e a retirada da Síria do Líbano em 2005, o Partido FL começou em criar um inimigo para os cristãos no Líbano. Portanto, escolheu o Hezbollah por ser alvo de países estrangeiros e partidos regionais e internacionais. O FL apresentou-se como capaz de enfrentar o inimigo dos EUA, Israel e do Golfo.
Todas as pistas provam que a FL matou os mártires do movimento Amal em Tayouneh, mas seu líder se concentrou no Hezbollah. Já o conflito com o Hezbollah está sendo explorado no exterior.
O Partido FL tem uma milícia própria e não tem problemas em provocar incidentes, mesmo que isso leve a confrontos sangrentos e resulte em baixas, pois serve ao seu propósito e pode levar à guerra civil.
Dirijo de todo o coração aos libaneses: O verdadeiro programa das Forças Libanesas é a guerra civil, pois essa guerra levará ao deslocamento e confinamento dos cristãos num determinado território, criando assim um gueto cristão dominado pelos FL e em que não há espaço para mais ninguém.
Em 2017, os dirigentes do FL mostraram ao ministro saudita AL-Sabhane sua disponibilidade para uma guerra civil, e isso durante a prisão de seu aliado Saad Hariri (em Riade, nota do editor). O FL foi o primeiro a trair o Hariri, porém o Presidente Aoun, o movimento Amal, o Hezbollah e parte do movimento Futuro (Hariri) fizeram esforços para sua libertação e retorno ao Líbano.
Reivindicação total do massacre
O que aconteceu na quinta-feira passada constitui um ponto de inflexão para uma nova etapa na resolução dessa questão a nível político interno.
Sabíamos na véspera do massacre que havia uma mobilização das FL na região de Ain El-Remmaneh, Badaro e Furn AL Chebbak, mas recebemos garantias do exército e dos serviços de segurança de que se tratava de medidas cautelares.
Todas as declarações do líder do FL sobre os acontecimentos de quinta-feira que falava de um ‘mini sete de maio’ constituem uma reivindicação total do conflito e do massacre.
O FL incitou a população dessas áreas e dizer que amanhã haveria uma invasão aos seus bairros.
Quanto a nós, confiamos no exército libanês e respeitamos os sentimentos dos moradores dessas regiões, pois somos vizinhos. Não tomamos medidas de segurança devido à natureza delicada desta região, apesar de que o nosso sangue foi derramado.
Quem salvou a vida de cristãos na Síria
A tentativa de retratar o Hezbollah como um inimigo é uma ilusão, uma mentira, um engano e injustiça. Nem o Hezbollah, nem do movimento Amal, nem xiitas e nem os muçulmanos são inimigos dos cristãos no Líbano.
Para quem quer dizer que o Hezbollah é inimigo dos cristãos, podem perguntar às igrejas e mosteiros defendidos pelo exército sírio e pelo Hezbollah e como nós temos agido em relação à presença cristã.
Quem preservou as vidas dos cristãos na Síria, o exército sírio, o Hezbollah e seus aliados ou as Forças Libanesas e seus aliados?
Quando o Hezbollah estava ao lado de cristãos e muçulmanos em Jrud Ersal, a FL forneceu cobertura para a Frente Al-Nusra e os takfiristas na Síria.
Aqueles que defenderam os muçulmanos e cristãos em Baalbek-Hermel são o povo desta região e o Hezbollah, e posteriormente o exército interveio, pois era proibido se defender ou abrir fogo para poder recuperar o corpo dos seus mártires. Isso foi uma decisão política da qual o partido FL fez parte.
O Hezbollah nunca cometeu abusos contra os cristãos, seja durante a guerra na Síria, ou mesmo antes, durante a retirada israelense do sul do Líbano.
Aja de acordo com as crenças do verdadeiro Islã
Após a retirada israelense do sul do Líbano em maio de 2000, como o Hezbollah lidou com aqueles que haviam colaborado com o inimigo israelense, tanto muçulmanos e cristãos?
Quando entramos nas aldeias libertadas, como lidamos com os agentes que detiveram e torturaram nossas mulheres? Ninguém matou, roubou ou agrediu uma pessoa. Até proibimos nossos combatentes e apoiadores de exibir bandeiras do Hezbollah nas aldeias cristãs de Jezzine, para não ferir seus sentimentos.
Como um lembrete, a resistência francesa decapitou 10 mil agentes de ocupação alemães após a libertação.
Agimos moralmente e de acordo com os ditames do verdadeiro Islã, não a religião distorcida por seus aliados, os Daeshistas.
FL é a maior ameaça aos cristãos no Líbano
É uma injustiça, uma calúnia e grande armadilha para o nosso país pensar que os xiitas e os muçulmanos são inimigos dos cristãos.
A maior ameaça à segurança da comunidade cristã é este partido e seu líder, bem como seus aliados regionais e internacionais. Revejam o histórico e os recentes casos envolvendo o FL.
Os membros do FL representam a maior ameaça para o Líbano por se aliar ao Daesh, Al-Nusra e à chamada oposição na Síria.
Gostaria de lhe perguntar: Se estes grupos tivessem conseguido assumir o controle da Síria, qual teria sido o destino dos cristãos na Síria?
A resposta seria não haverá mais cristãos na Síria, nem igreja, nem patriarca, nem metrópole.
As Forças Libanesas também trabalharam para alimentar o conflito sunita-xiita.
O primeiro a se opor ao acordo de Mar Mikhail é o partido das FL e seu líder. E a partir de 06 de fevereiro de 2005, abraçaram um pacto especifico cujo seu conceito é de não aceitar o outro, não dialogar e não permitir que muçulmanos e cristãos se relacionem.
Por outro lado, quando o acordo Ma’rab entre o CPL (Partido Aounista) e o FL foi concluído, reagimos positivamente e dissemos que qualquer cooperação entre as forças políticas no Líbano será refletida em todo o país. Não fizemos nenhum esforço para sabotar este acordo. E não estávamos nem um pouco preocupados com este problema. O FL assinou este acordo (em 2016) com a CPL apenas para impedir Sleiman Frangié de aderir à presidência.
O Hezbollah é um fator positivo para a presença cristã
Para sua informação, os franceses da época de Jacques Chirac propunham aos iranianos o processo de tomada de decisão entre sunitas, xiitas e cristãos. Consultamos o Presidente Berri na época, e rejeitamos esta ideia porque o interesse do Líbano está em tomar decisões em bases iguais.
Posteriormente, aceitamos a lei ortodoxa porque o nosso aliado cristão disse que essa lei garante uma representação real e clara dos cristãos nas eleições legislativas. Quem contraiu esta lei foi o Partido FL.
Desde sempre, antes ou depois do incidente da quinta-feira, sofremos vários ataques das forças libanesas, e, apesar disso, agimos com paciência e sem vingança, só para preservar a presença cristã no país, e, portanto, sufocamos a guerra civil a que aspiram o partido FL e seu chefe.
Em uma sessão interna, o chefe deste partido afirmou que agora é o momento certo para enfrentar o Hezbollah, pois está mais enfraquecido. Adicionou, o FL se tornou mais forte do que na era do Bashir Gemayel (década do 1970-1980), e o Hezbollah agora é mais fraco do que a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) na época.
Portanto, aconselho o partido FL e seu líder a abandonar qualquer ação que leve a conflitos internos. Avisando-os que seus planos estão mal planejados e seus cálculos estão totalmente errados.
Não calcule mal: 100.000 combatentes do Hezbollah
No nível regional, o partido FL está 100% errado, e o fato de o Hezbollah ser mais fraco do que a OLP, o FL está muito enganado. Se os seus informações se baseiam nestes cálculos, posso afirmar que estão totalmente falsos.
Eu digo ao partido FL e seu líder, para se preparar para uma guerra civil, vocês tem que fazer os cálculos corretos.
Tem que considerar a estrutura militar do Hezbollah, pois inclui homens bem treinados, totalmente organizados, com experiência militar e apoio espiritual e estão prontos para enfrentar qualquer desafio. 100,000 combatentes, essa é apenas a estrutura militar, ainda não incluindo os outros setores da organização Hezbollah.
Esses combatentes são treinados para proteger a nossa terra, preservar a dignidade e a soberania do país em face de qualquer agressão ou terrorismo, defender o nosso petróleo e gás, ou seja, lutar contra as ameaças externas e não ingressar em conflitos internos.
Portanto, não somos fracos nem indefesos, nossos cálculos estão corretos e temos constantes objetivos e causas carregados de fé e moral.
Enfrente o bandido, assassino e criminoso
A partir daí, digo ao Partido das Forças não cometa erros mais.
Para seu líder, seja sábio, educado, quieto e aprenda lições das todas as suas guerras e das nossas.
O exército libanês é o garante da unidade do Líbano
O estado libanês com suas autoridades religiosas, principalmente as cristãs, deve enfrentar esse bandido, assassino e criminoso para evitar uma guerra civil e estabelecer a paz interna, com segurança e tranquilidade no país.
Existem dois aspectos nos eventos de Tayouneh:
O primeiro após a queda dos mártires e dos feridos e o segundo após a confusão.
Como os outros libaneses, temos o direito de nos manifestar pacificamente, formamos um comitê de dois mil pessoas. Não convocamos um protesto popular, não planejamos atacar ou invadir, foi apenas um protesto pacífico. Slogans provocativos foram entoados por alguns, o que não foi preciso. Rapidamente, o fogo foi aberto contra os manifestantes resultando na morte de sete pessoas. Os serviços de segurança informaram-nos que os mártires caíram no fogo do FL.
Depois de serem baleados e mortos, os jovens manifestantes trouxeram armas para deter os agressores.
Exigimos uma investigação rápida e séria para saber como ocorreu o massacre, exigimos que os responsáveis sejam apresentados à justiça. Também queremos saber se o soldado que disparou contra os manifestantes agiu a título pessoal ou por ordens. É um negócio intolerável, e o primeiro grupo que não deve tolerar isso é os líderes do exército libanês.
Temos lembranças sofridas com as armas do exército. Não esquecemos o massacre feito por este exército que atirou em nós na ponte do aeroporto em 1993, no distrito de Hay Solom e na rotatória de Mar Mikhael. Mas devemos estar apegados à unidade e coesão desta instituição, porque a unidade e coesão da instituição militar é a única garantia da unidade do Líbano.
O verdadeiro projeto do Partido das Forças Libanesas é arrastar o Hezbollah e o exército libanês para um conflito, mas isso não significa que perdoemos quem comete o crime, seja um oficial ou um soldado, e exigimos uma investigação e um julgamento a fim de retificar o curso dos acontecimentos.
Há 18 pessoas presas em conexão com os eventos em Khaldeh, e em poucos dias o julgamento será realizado.
Todos os envolvidos neste crime serão punidos. Se o Judiciário estiver sujeito à politização, nossos olhos estarão abertos. E se a justiça não julgar os envolvidos, não vamos deixar o sangue de nossos irmãos no chão.
Explosão do porto e imparcialidade da justiça
Em relação à explosão no Porto de Beirute, estamos muito interessados em saber a verdade, pois isso é do nosso interesse, porque há mártires e feridos, e bairros que foram destruídos.
Não desistiremos por um momento sobre a questão da explosão do porto de Beirute, e assumimos uma verdadeira responsabilidade política, e temos sido os mais ousados justamente porque muitas pessoas não participam ou ajudam por medo de ameaças.
Diversas pessoas no governo entraram em contato conosco quando ouviram nossas observações, e confirmaram que não havia nada na decisão em relação ao Hezbollah.
Porém, há um caminho que não conduz à verdade nem à justiça. Os maiores responsáveis por este crime são os juízes e os serviços de segurança que autorizaram a entrada dos nitratos de amônio no país, além da permanência destes produtos no porto.
Esses juízes receberam mandados de prisão? É um judiciário imparcial e uma conduta imparcial que leva à justiça?
Porque a nossa exigência de demissão do Juiz Bitar é entendida como uma ameaça, ao passo que a intimidação lançada pelos americanos, alertando contra qualquer mudança de magistrado à frente desta investigação!
Todos nós sabemos dos serviços de certas embaixadas e autoridades praticando a intimidação.
Finalmente, às famílias dos mártires e aos nossos simpatizantes, esses mártires, quando caem injustamente, são como os mártires da resistência no campo da batalha e servem ao mesmo propósito, mas às vezes a resposta da vingança de seu sangue é diferente.
A segurança e a estabilidade do nosso país tem que ser preservados como objetivo absoluto enquanto julgamos os assassinos.
Nossos inimigos internos juntamente com os americanos querem uma guerra civil no Líbano e procuram nos privar da coexistência.
O que é necessário nessa fase dolorida e sensível são mais paciência e perspicácia do que nunca, e uma abertura islâmico-cristã mais do que nunca para desarmar a última mina, arma, bomba ou opção mantida pelo inimigo.
Fonte: Al Manar