Discurso do Líder do Hezbollah, Sayyed Hasan Nasrallah, na noite de quarta feira 11/11/2020 na ocasião do Dia do Martírio, com discussões sobre os últimos acontecimentos nacionais e no mundo
Redação do site
Quatro temas principais estiveram no discurso do Secretário-Geral do Hezbollah Sayyed Hasan Nasrallah, durante sua intervenção televisionada por ocasião do Dia do Mártir, proclamado em 11 de novembro, em comemoração à primeira operação-martírio da Resistência realizada nesta mesma data em 1982, poucos meses após a invasão israelense no Líbano.
No primeiro ponto, o líder do Hezbollah falou sobre um ato marcante, pois naquele dia, 11/11/1982, o príncipe dos mártires, o jovem Ahmad Kassir, explodiu seu carro no coração do quartel-general do governador militar do exército da ocupação israelense, na cidade de Tiro, no sul do Líbano, causando a morte de cem oficiais israelenses.
« Repito, esta é a operação mais importante contra o inimigo sionista na história do conflito árabe-israelense. Nunca esqueceremos o rosto pálido e negro de Ariel Sharon quando ele visitou os destroços do edifício destruído”, frisou.
Referindo-se às negociações em curso entre o Líbano e a entidade sionista há um mês para a demarcação das fronteiras marítimas onde a questão está precisamente ligada aos depósitos de hidrocarbonetos contidos nesta área libanês-palestina, ele disse:
“Graças ao sangue dos mártires, o Líbano está negociando em uma posição de força e não de fraqueza”, assegurou, estimando que o Presidente da República Michel Aoun retorne à gestão das negociações, após o líder do Parlamento Nabih Berri definir sua estrutura.
« Cabe às instituições do Estado libanês delimitar as fronteiras, e o Hezbollah só terá de cumprir. O nosso partido intervirá apenas quando for necessário fazer cumprir suas decisões no caso de denúncias de violações israelenses », disse ele.
Em seu segundo ponto, o Hezbollah falou sobre as últimas manobras militares israelenses ocorridas na semana passada no norte da Palestina ocupada e no Golã ocupado na Síria.
“Segundo autoridades israelenses, essas são as manobras mais importantes, como as de 2017”, disse.
Para ele, esta é a primeira vez que os israelenses realizam exercícios militares seguindo uma lógica defensiva e não ofensiva, simulando o cenário de uma incursão de combatentes da resistência libanesa nas colônias da Galiléia. “O que constitui uma grande mudança que é também fruto do sangue dos mártires da Resistência ”, insistiu.
E para revelar: “Durante todas essas manobras israelenses, os combatentes do Hezbollah estavam em estado de mobilização máxima, eles estavam em pé de guerra, prontos para responder a qualquer inclinação israelense contra o Líbano. Sem ninguém perceber”.
No terceiro ponto, Sayyed Nasrallah falou sobre as eleições presidenciais dos EUA. “Eles ilustram o lamentável estado da democracia americana que se configura como um exemplo a ser seguido no mundo”, disse.
« O presidente dos Estados Unidos Trump trabalhou para confiscar a cédula postal dos eleitores americanos para se declarar o vencedor. O que mostra o quanto este líder respeita a opinião de seu povo”, disse Sayyed Nasrallah.
Segundo ele, do ponto de vista emocional, “Temos o direito de nos alegrar por Trump ter perdido as eleições”, acumulando mais perdas nos arquivos que ele tratou durante seu mandato de quatro anos.
“No entanto, não podemos prever o que ele fará durante os dois meses restantes. Apelo aos países, facções e povos do Eixo da Resistência a permanecerem atentos para retribuir caso alguém se atreva a embarcar em uma aventura militar”.
Na última parte de seu discurso, Nasrallah prestou homenagem à coragem do líder da Corrente Patriótica Livre (Al Watani Alhorr), Gebran Bassil, que foi alvo de sanções americanas sob a Lei Magnitsky na semana passada.
“Todo mundo sabe muito bem que ele foi sancionado porque se recusou a obedecer aos americanos que lhe pediram para romper com o Hezbollah, e não por corrupção”, disse ele.
Revelando que o Sr. Bassil havia lhe informado, antes das sanções serem decretadas, sobre pressões exercidas para ele encerrar o acordo entre a CPL e o Hezbollah, firmado em 2006. Relatando que em nenhum caso poderia se curvar ao ditame americano, « por princípio de liberdade e respeito pela soberania do Líbano ».
Nasrallah dirigiu a palavra para Bassil e para todos os aliados e amigos: « Tomem as decisões que lhe convêm com seu interesse e a do Líbano. Não me entenda mal. Nós seremos capazes de administrar. Seremos pacientes”, relatou também sobre o conteúdo de suas discussões com Bassil.
E para concluir: “Saibam que se fizermos uma única concessão aos americanos, eles nunca ficarão satisfeitos e vão quere sempre mais ».
Os principais trechos do discurso
Deus diz em Seu livro: “Entre os crentes há homens que cumpriram suas promessas diante de Deus. Alguns morreram. E alguns estão à espera e nunca mudarão”.
A maior operação no conflito árabe-israelense
Irmãos e irmãs, hoje celebramos a cerimônia do Dia do Mártir do Hezbollah.
Todos os anos, comemoramos a memória dos nossos mártires. Escolhemos dia 11/11 como base para a celebração do grande evento que ocorreu em 1982, quando o príncipe dos mártires Ahmad Kassir lançou uma operação de martírio contra a sede do governador israelense em Tiro, destruindo-a e matando cem oficiais e soldados. Esta foi a maior operação da história do conflito árabe-israelense, especialmente porque ele a executou sozinho e os derrotou. Lembramos o rosto pálido, negro e desesperado de Sharon nos destroços da explosão.
Esperamos que chegue o dia em que outro mártir ou mártires também realizem uma operação ainda maior.
Este corajoso ato aconteceu alguns meses após a invasão israelense no Líbano e quando se disse que o Líbano havia entrado na era israelense.
Dirijo minhas saudações às almas puras e boas de todos os mártires pelas façanhas que conseguiram. Devemos muito a eles pelos sacrifícios que fizeram. Devemos saber o valor grandioso desses mártires.
Quando falamos de segurança fronteiriça, dignidade, honra, poder, soberania, estabilidade, temos que saber que os devemos a Deus em primeiro lugar, cujas ações se materializam nas causas, e nos mártires que consentiram em se sacrificar.
Reconhecemos seus favores e seus sacrifícios que nos permitem viver hoje na bênção de suas façanhas. Devem permanecer vivos em nossa memória, em nosso discurso e em nossa cultura. Devemos sempre lembrar os grandes nomes desses mártires que fundaram essa forte Resistência.
A Umma, que conhece o valor de seus mártires e permanece fiel a eles, saberá conservar o caminho que eles projetaram.
Nesta ocasião, dirijo-me a todos os que estão próximos dos mártires, familiares e amigos, os saudamos e expressamos todo o nosso amor e respeito.
O versículo do Alcorão fala de duas categorias de mártires: « Aqueles que morreram como mártires e aqueles que esperam ».
As façanhas dos mártires devem ser guardadas com fidelidade, para preservar a vitória, para seguir o seu caminho e obter a mesma gratidão.
A peculiaridade de nossos mártires é que eles estão sempre presentes entre nós, incluindo Sheikh Ragheb Harb, Sayed Abbas Moussaoui e Haj Imad Moughniyeh, e todos os outros mártires que foram e os que ainda estão no mesmo caminho. Esta é a prova de que nosso movimento está pronto a todos os sacrifícios, com toda a fidelidade e sinceridade, no caminho de Deus.
A demarcação das fronteiras marítimas não é da nossa responsabilidade
Passo direto para a primeira questão: A demarcação das fronteiras marítimas com o inimigo sionista. Eu nunca comentei sobre este assunto antes.
É uma dos grandes sacrifícios e frutos do sangue dos mártires.
Gostaria de lembrar a vocês, na véspera da libertação do país no ano 2000, eu avisei que a nossa resistência não vai intervir na demarcação das fronteiras. Isso não faz parte da nossa função.
É da responsabilidade do Estado libanês, do Presidente da República, do governo, do Parlamento, das instituições estatais que devem decidir quais são as fronteiras terrestres e marítimas. A resistência respeita o que o Estado decide e trabalha para preservar essas fronteiras e cuidar da terra e da água se houver violação por parte da ocupação. Então, nenhuma mudança nessa postura que remonta a 20 anos.
Posteriormente, o Estado libanês iniciou negociações indiretas nas fronteiras terrestres sob a supervisão do comando do exército e do então presidente libanês Emile Lahoud. Foi o Estado libanês que decidiu que as aldeias de Shebaa e as colinas Kafrachouba, bem como parte da aldeia Al-Gajar são libanesas.
As fronteiras marítimas naquela época não estavam em questão. No passado, havia pouco interesse por essas fronteiras, mas quando foram descobertos os depósitos de hidrocarbonetos, principalmente na zona sul, foi necessário passar por essas demarcações especialmente para as petroleiras.
Este tópico tem sido por dez anos o foco principal do presidente do Parlamento libanês Nabih Berri, onde fez vários contatos e negociações.
Nós do Hezbollah, como resistência, estávamos apoiando esses esforços para delinear tais fronteiras, insistimos apenas num certo número de limites a serem respeitados: as negociações deveriam ser estritamente técnicas e nada mais. Mas não somos nós que fazemos as delimitações.
Ultimamente, os EUA se interessaram por este assunto, com as visitas de David Hale e David Schenker.
Além das verdadeiras causas de seu interesse, eles indicaram que queriam ser os mediadores e o Sr. Berri estabeleceu um quadro para as negociações. A partir de então, a responsabilidade foi transferida para o presidente Michel Aoun.
O fato de anunciar um marco para as negociações gerou um grande clamor no país e na região, principalmente na mídia do golfo que falou muito sobre o assunto.
Isso ocorreu simultaneamente com a nova campanha de normalização dos acordos de paz na região e alguns tentaram incluir esta questão no processo de negociação, dizendo que a dupla Amal Hezbollah estao se preparando para negociações de paz com vistas à normalização das relações com Israel.
Estas são palavras vazias e não demonstram a realidade. Sempre garantimos, durante as tentativas anteriores, que as negociações fossem exclusivamente técnicas.
Alguns argumentaram que houve negociações entre o Irã e os EUA. O que nunca aconteceu e nunca acontecera’, especialmente durante o mandato de Trump, e os iranianos negaram isso categoricamente.
Alguns são tão obcecados por estranhos que não podem permitir que outros ajam independentemente de sua influência.
Tudo isso vem das câmaras escuras, para lançar cortinas de fumaça e encobrir a normalização, alegando que todos estão se encaminhando para os acordos de paz. Tudo isso sao mentiras e difamação sem qualquer fundamento.
Nossa posição é clara. Israel é uma presença ilegal, satânica, é formada por bandos que usurpam a Palestina.
Temos total confiança no presidente
A demarcação das fronteiras é, portanto, compete ao Presidente da República no qual temos total confiança, bem como na sua gestão.
Estamos convencidos de sua firmeza e seu apego indelével a preservar os interesses nacionais e sua dedicação em preservar os direitos do Líbano.
Certamente tinha algumas discordâncias sobre a natureza da equipe de negociadores que deveriam participar das negociações, pois queríamos que fosse formada exclusivamente por militares. O presidente concordou plenamente que não deveria haver políticos, mas a divergência era sobre a presença de civis.
Este é um detalhe que precisa ser levado em posição preventiva, mas asseguramos nossa total confiança e até o momento os integrantes da delegação têm respeitado os limites estabelecidos.
O mais importante é que o Líbano obtenha todos os seus direitos. Quando o acordo for concluído, cada uma das forças libanesas terá uma palavra a dizer.
Mas todos devem saber que o Líbano está em uma posição de força e não de fraqueza, e o inimigo também precisa chegar a um acordo e nós podemos explorar as áreas que ocupa. E podemos prevenir isso.
Não é uma questão de solicitação ou súplica. Não imploramos por nossos direitos. Estamos em uma posição forte. E isso graças ao sangue dos mártires.
As maiores manobras israelenses
Vou falar das manobras israelenses que vêm ocorrendo a alguns dias, de domingo a quinta-feira. Foram enormes, as mais enormes no norte da Palestina e no Golã Ocupado na Síria.
A manobra anterior que teve essa magnitude ocorreu em 2017.
Durante os exercícios, foram feitas análises segundo as quais os israelenses poderiam aproveitar a mobilização de suas forças para realizar uma ação em direção ao Líbano ou à Síria.
Um de seus objetivos, de acordo com as declarações israelenses, tem sido simular uma incursão da resistência às posições israelenses ou nos assentamentos da Galiléia, e simular sua recuperação e expulsão das forças de resistência e também para retaliar dentro das fronteiras sem nem mesmo considerar invadir o Líbano.
O exército israelense, da ofensiva à defensiva
A observação que gostaria de fazer também está relacionada às façanhas dos mártires.
Em 2017, exercícios semelhantes aconteceram. Eles eram defensivos e visavam defender os assentamentos israelenses.
Em 2020 aconteceu a mesma manobra, apesar da pandemia do coronavírus e das dificuldades econômicas israelenses, e isso significa que a Resistência levou os israelenses da ofensiva para a defensiva e isso não tem precedentes.
Esta Resistência, seus mártires, seus combatentes levaram o Líbano a este nível que mudou a visão do inimigo que teme atacar o Líbano e que evoca a destruição por meio de mísseis ou aviões e não por invasões terrestres.
Esta é uma mudança na equação e um elemento essencial do qual devemos estar cientes para saber o valor do Líbano nos cálculos do inimigo. O que deve nos levar a calcular as coisas corretamente quando vamos para as negociações com este inimigo.
Ao insistir em realizar essas manobras em 2020, mesmo que 1.000 soldados sejam contraídos pelo coronavírus, reflete o grau de apreensão entre os israelenses.
É a prova de que as forças terrestres têm um problema de disposição, nos planos morais, confiabilidade, disciplina, predisposição aos sacrifícios, para seguir em frente.
Eles querem garantir aos seus soldados que seu avanço será feito com segurança. Eles precisam dar confiança e elevar a moral deles.
É uma verdadeira crise dentro das forças terrestres israelenses. O mesmo se aplica às forças marítimas.
Em 2006, um único míssil excluiu as forças marítimas israelenses da batalha, com o bombardeio do navio Saer.
Não subestimamos a Força Aérea Israelense. É certamente o mais forte da região e os EUA dão-lhes sem consideração, sem teto, mas isso não protege a entidade sionista.
A Força Aérea não pode alcançar a vitória final e decisiva. Isso foi visto durante a guerra de 2006, depois a guerra em Gaza e até a guerra contra o Iêmen.
São as forças terrestres que decidem a batalha É uma lacuna real no exército israelense.
Resistência em pé de guerra
Saibam que, levando em conta todas as eventualidades possíveis, e sem semear pânico no Líbano, a resistência estava, antes do lançamento das manobras, durante a sua contenção e depois, em pé de guerra, algumas unidades foram 100% mobilizadas. Outros em 75 por cento.
O inimigo sabia disso muito bem e garantimos que ele ficasse sabendo que sempre estamos muito atentos, totalmente mobilizados, com as mãos no rifle e prontos para responder imediatamente. Tudo isso sem se que os libaneses percebam.
Na Síria, todas as precauções foram tomadas pelas forças armadas sírias e pelos aliados. A mensagem para o outro lado é que estávamos prontos para o confronto.
As eleições Americanas
Sobre as eleições americanas, o que nos preocupa na região e no eixo.
Todo mundo está acompanhando o que aconteceu nessas eleições presidenciais porque os resultados vão impactar o mundo inteiro
Os acontecimentos, os discursos dos candidatos e as campanhas deram uma imagem do sistema político e das forças que nele atuam, o que exige de nós que o examinemos e discutimos mais.
Porque os EUA são um problema para todos os povos do mundo, tanto de seus aliados quanto de seus adversários.
Uma parada nas cifras e nos dados para aprender as lições, saber quem são os americanos que se configuram como o exemplo a seguir e assim dar para refletir sobre o que está acontecendo lá.
A situação econômica, o grau de endividamento do orçamento dos Estados Unidos, o padrão de vida das pessoas, alguns morando em tendas de náilon, sem teto, sem segurança social, aos quais se somam os imensos números de contaminações e mortes por causa do coronavírus, doenças psicológicas, o número de drogados, a alta escala da violência, o número de presos, a extensão da corrupção nas administrações estaduais e na classe política, o racismo repugnante que aí reina.
A segunda coisa, é o triste estado da democracia americana, sabendo que a administração americana e não apenas Trump conhecido por sua loucura e que quer permanecer preso ao poder, o próprio Partido Republicano adota a retórica beligerante de Trump e recusa-se a admitir os resultados da votação.
O que é essa democracia
Alguns votaram pelo correio, outros antecipadamente, outros no dia da votação, ao vivo.
Quando fizeram a contagem, começaram ao contrário, contando os votos dos que votaram ao vivo e por último pelos que estavam pelo correio.
No final da primeira fase, Trump gritou vitória enquanto os outros votos ainda não haviam sido contados. Trump queria confiscar os votos de milhões para declarar sua vitória. É, também, o Partido Republicano que está em concluio e não apenas Trump.
Não sabemos como eles vão agir, mas eles não deveriam mais nos dar lições de democracia.
O que é essa democracia
Quanto à nova administração dos Estados Unidos: Em nossa região, nosso problema há décadas, é que a política dos Estados Unidos é totalmente pró-Israel. Israel é essencial para eles. Sua superioridade, seu poder, sua segurança. É a sua constante para todos eles, sejam eles republicanos ou democratas.
Eles competem entre si para ver quem consegue apoiar Israel mais. Nada nisto mudará. Esta política pode mudar de tom com outros países, Rússia, China e Venezuela.
Não devemos ter ilusões sobre uma mudança na política americana. Não devemos ser enganados jamais.
Eu não acho que a nova administração irá eliminar as decisões tomadas sobre a anexação de Jerusalém, a transferência da embaixada ou a anexação do Golã. Não deve se concentrar em mudanças.
Bem-vindo de volta à derrota de Trump
Do ponto de vista emocional, não há dúvida de que a administração de Trump foi a pior, uma das piores administrações dos Estados Unidos. Os mais insolentes, os mais arrogante e agressiva até mesmo com os aliados dos Estados Unidos.
Certamente há uma diferença entre seu discurso com o Irã, tomando certas precauções, enquanto com a Arábia Saudita, ela foi a mais arrogante. Trump sempre manterá em sua memória que não encontrou nenhum oficial iraniano.
Por quatro anos, Trump colocou o mundo em estado de guerra: na Coréia do Norte, China, Irã, Venezuela, Síria, além de querer fazer política à beira do abismo ou não.
Uma de suas peculiaridades é certamente ter mostrado a verdadeira face dos EUA, sua ferocidade, sua corrupção, sua arrogância, seu orgulho.
A lista de seus crimes é longa:
No arquivo palestino, através das anexações, a pressão contra os palestinos, a autoridade e o povo.
No Irã contra o qual impôs a máxima pressão, em meio à pandemia do coronavírus.
Na Síria, impôs uma guerra econômica sobre ela através da lei Cesar.
Ele tentou ressuscitar a discórdia no Iraque e na Síria.
Ele tentou derrubar o poder na Venezuela.
Mas ele falhou em todos os lugares.
Onde está o acordo do século?
Eu havia apontado anteriormente que este acordo tem três lados: Trump, não será mais presidente, Netanyahu que está em uma situação crítica no interior de Israel e Mohamed Bin Salman, que deve ser o mais preocupado de todos os líderes da região, especialmente com medo de ser punido pelo assassinato de Khashoggi e pela guerra contra o Iêmen.
A vontade do povo palestino não poderia ser quebrada. Idem para o Irã, Síria, Iraque, Líbano, Venezuela, Cuba e Coréia do Sul, Trump, nem foi capaz de dobrar a espinha dorsal da China.
Sobre a derrota do presidente americano, tenho dois resultados:
Estou feliz com a queda humilhante de Trump, e temos o direito de nos alegrar especialmente por ele ter cometido o crime do século, assassinando Soleimani e Mohandes, e ele se gabou disso durante sua campanha para as eleições presidenciais. Temos o direito de nos alegrar por esta derrota humilhante de seu povo, porque ele também tentou humilhá-los.
Operacionalmente, diante deste governo agressivo e arrogante que poderia a qualquer momento ir à guerra, sem limites, nossos povos resistiram e puderam impedir a realização de seus projetos.
Nossa vontade e’ mais forte que seu despotismo e sua arrogância. Os Estados Unidos não é um destino irreversível. E são os povos que acabam vencendo. Esta é a lição a ser aprendida com essas eleições.
O eixo de resistência deve permanecer cauteloso
Nos últimos dois meses alguns funcionários do Pentágono ficaram assustados quando Trump demitiu o ministro da Defesa e se perguntaram o que ele faria com este homem, pois tudo é possível.
A relação entre o presidente e o ministro Esper não foi das melhores, especialmente porque se recusou a reprimir protestos que estouraram nos Estados Unidos.
As decisões perigosas que ele pode tomar podem estar relacionadas ao uso de forças militares dentro dos Estados Unidos.
Pode ser que o Partido Republicano queira fazer nestes dois meses o que Trump não pôde fazer durante os quatro anos de seu mandato.
Além disso, o eixo da resistência, seu povo, seus governos e suas facções devem estar em guarda e esperar o pior cenário. Devemos estar em um estado de grande alerta e estar preparados para enfrentar qualquer perigo para retaliar e fazer pagar o preço.
Israel , política dos EUA na região
Termino com a última parte sobre a política americana no Líbano e o processo de sanções.
Os EUA práticam a política no Líbano e na região para proteger Israel, sua segurança, suas fronteiras marítimas e terrestres, sua superioridade e para mantê-lo afastado de qualquer perigo que poderia vir do Líbano e, claro, levar o nosso país à normalização nas relações.
O problema dos Estados Unidos é mesmo a corrupção no Líbano que data de décadas? É a crise econômica que já dura anos?
Seu verdadeiro problema é a resistência, a ameaça de Israel nas fronteiras, o Hezbollah, seus mísseis e a sua popular base.
O problema com o Hezbollah certamente não é a suposta hegemonia iraniana, nem mesmo seu papel político. Para eles, o Hezbollah poderia desempenhar o papel político que deseja se desistir da resistência.
Seu problema está relacionado apenas à resistência. Este é um fator de força que se ilustra, entre outras coisas, nas negociações sobre fronteiras marítimas que têm acontecido nestes dias.
Israel não pode impor nada ao Líbano. Os israelenses estão muito apreensivos com o Líbano.
Falhas em banir o Hezbollah
Durante os últimos 15 anos, eles trabalharam para se livrar do Hezbollah. Eles tentaram fazer isso em toda a Síria.
Antes e depois de 2005, o presidente sírio Bashar al-Assad foi visitado por dois líderes árabes. Eles vieram dizer a ele que os Estados Unidos estavam dispostos a dar-lhe todo o Líbano sob a condição de desarmar o Hezbollah e os campos palestinos.
Em 2005, após o martírio do presidente Rafic Hariri, os Estados Unidos queriam liderar o Líbano em uma guerra civil em todo o país e sua tentativa foi abortada através da aliança quadripartite à qual voltarei um dia para explicar as suas vantagens.
Também em 2006, eles não conseguiram esmagar a resistência durante a guerra.
Houve execuções subsequentes de lideres libaneses incluindo a do Haj Imad Moughniyeh.
Posteriormente, em 2008, foi a vez do complô que pretendia se opor ao exército Libaneses contra a resistência.
Depois de 2011, houve a Primavera Árabe na Síria, a insurgência, e devemos lembrar o discurso deles que irão para o Líbano depois da Síria.
E quando Saad Hariri foi sequestrado na Arábia Saudita, houve um acordo com o ministro do interior saudita, Sabhane, para iniciar uma guerra civil no Líbano. Tudo isso acabou em fracasso.
Todas as suas tentativas foram abortadas
Por dois anos eles têm se concentrado em colocar o Líbano contra a resistência, em todas as comunidades existentes, mas especialmente a comunidade xiita precisamente, incentivando este ambiente, tendo como base a situação econômica.
Ao mesmo tempo, eles exerceram enorme pressão econômica ao proibir o fluxo de dólares para o Líbano e de investimentos, para dificultar ainda mais as condições de vida.
E então, passamos a querer atribuir a responsabilidade ao Hezbollah, a responsabilidade pelo colapso econômico e corrupção, proferindo mentiras que o Hezbollah controla o país, as nomeações ministeriais ou de serviço civil.
Mas tudo isso não deu em nada.
Mesmo as pessoas que se manifestaram não puderam culpar o Hezbollah pelas consequências desta situação.
Vimos a diferença na participação das pessoas, entre as manifestações que eram por reivindicações econômicas e aquelas que exigiam a aplicação da resolução 1559 no desarmamento da Resistência.
Os bilhões de dólares que os Estados Unidos deram à ONG no Líbano acabaram sendo inúteis.
Digo às pessoas de boa vontade que participaram dessas manifestações, é importante não se deixarem envolver por seus esquemas e suas agendas.
Foi a embaixada dos Estados Unidos quem administrou e financiou esses eventos. De onde vieram os bilhões de que David Hale falou?
Tudo isso falhou graças à maturidade das pessoas.
Ninguém pode dizer que o Hezbollah está mergulhado na corrupção no Líbano, podemos ser acusados de deixá-lo ir, voltarei a isso um dia, de não ter lançado a batalha contra a corrupção antes. Mas ninguém pode dizer que o nosso partido está mergulhado na corrupção.
A arma de sanções contra os aliados do Hezbollah
Atualmente estamos em processo de aplicação de sanções contra aliados e amigos do Hezbollah. Os nossos colaboradores sofreram de sanções por muitos anos e alguns tiveram seus nomes na lista das pessoas a serem procurados e quem matar um deles será recompensado.
Isso faz parte da pressão psicológica que visa incitar as pessoas contra o Hezbollah e recrutar agentes.
Para o Hezbollah, as sanções não farão nada. Não temos dinheiro no exterior. Vivemos neste país e queremos ficar aqui. Este é o nosso lugar.
Temos fé na causa, pela qual fizemos enormes sacrifícios e essas sanções não farão absolutamente nada. Isso não significa que estamos sendo injustiçados, mas estamos sendo pacientes.
Aqueles que estavam na lista de sanções, citamos o ex-ministro Mohamad Hassan Khalil do movimento (partido) Amal, e o ex-ministro Youssef Fenianos do partido da Marada. Vimos como ambos os partidos publicaram comunicados de imprensa nos quais afirmam seu apego indelével à Resistência.
Agora é a vez da Corrente Patriótica Livre. Lá, os americanos acreditaram que poderiam alcançar algo. Isso é o que eles foram levados a acreditar. Eles acreditaram que poderia haver uma oportunidade.
Houve um incitamento interno de alguns libaneses, que fizeram cálculos falsos. Certamente é um grande passo, porque toca o líder de uma importante corrente no Líbano. Especialmente porque eles haviam discutido isso anteriormente com o Chefe de Estado e depois com o Ministro Bassil.
O Ministro Bassil tinha-nos falado sobre isso e disse-nos que os americanos pediram-lhe que pusesse fim ao acordo entre a CPL e o Hezbollah e pusesse termo às relações, caso contrário o colocarão na lista das sanções.
Então, Bassil enfrentou duas escolhas e preferiu ficar com a nossa aliança e já sabia que vai enfrentar sanções e garantiu que não poderia aceitar o rompimento, porque isso faz parte da nossa liberdade. Deus o abençoe.
Mas gostaria de dizer algo aos nossos aliados e amigos, àqueles com quem nossa relação não é apenas política, mas também amistosa.
« Não queremos que você seja prejudicado por nossa causa. Avalie seus interesses e os do país para tomar uma decisão diante dessas pressões ».
Abro um pequeno parêntese, para nossos aliados e nossos amigos. Minha resposta a todos se os EUA fizerem lobby contra isso: Vocês são livres para fazer a escolha que acharem convenientes. Que cada um avalie seus interesses e a do país. Quanto a nós, seremos compreensivos.
Os Americanos não têm direitos
Em resposta aos americanos, digo que a administração dos EUA não tem direitos legais ou morais para categorizar as pessoas no Líbano. Este governo terrorista, que fabrica e financia os terroristas, não pode de forma alguma categorizar as pessoas, sejam elas terroristas ou não.
Este governo que apóia os regimes mais despóticos e odiosos do mundo está mal colocado para categorizar os poderes que existem no mundo.
Este governo que saqueia a riqueza de outros países está mal colocado para acusar qualquer pessoa de corrupção.
Não pergunto nada a eles, digo que eles não têm direitos porque são os cérebros do terrorismo e da corrupção no mundo.
Essas são pressões políticas e nada mais, nada menos. Farão isso para impor seus ditames políticos contra entidades, países, personalidades, em todo o mundo.
Peço aos libaneses que percebam este caso como uma violação da soberania do Líbano, nem mais nem menos. Se os EUA colocarem um de nossos adversários políticos no Líbano em sua lista de terroristas, não poderei admitir.
Quando nos solidarizarmos conosco, os libaneses, eles descobrirão que essas medidas são ineficazes.
Consideramos a posição do Ministro Bassil corajosa. Ele o considerou à luz de seus próprios critérios e valores. É verdade que somos aliados, mas isso não significa que tenhamos a mesma percepção das coisas em todos os arquivos.
É uma posição nacional, moral, valente, da qual podemos nos referir na leitura política do país. Como ele expressou seu compromisso com a nossa relação, também nós estamos totalmente comprometidos com ele.
Por sua posição, Sr. Bassil consolidou sua liberdade e credibilidade.
Saiba que as demandas americanas nunca terminam, e se fizermos concessões a eles uma vez, eles nunca estarão satisfeitos.
Devemos agir de acordo com nossos interesses, nossa política deve ser livre e digna. Temos de nos recusar a cumprir e, certamente, temos de rever o acordo entre a CPL e o Hezbollah, que data 14 anos. Precisamos renová-lo, atualizá-lo. Muita coisa aconteceu desde então.
No momento há discussões com os nossos amigos da CPL, não vamos passar o nosso comentário na mídia, como sobre o combate à corrupção.
A resposta às sanções desenvolverá as relações entre o Hezbollah e a CPL no interesse do país.
A posição do Sr. Bassil é honesta, sincera, respeitável e de grande estima.
Tal como aconteceu com o movimento Amal e a Marada, e em toda a região, nós devemos entender que eles não podem nos impor escolhas. Devemos acabar com sua interferência.
FIM
Source: Al-Manar