Discurso do Secretário Geral do Hezbollah, Sayed Hassan Nasrallah, na comemoração da segunda libertação do país, ocasionado dia 27 de agosto.
Redução do discurso:
Por ocasião da comemoração da segunda libertação das montanhas e colinas libanesas da presença de pequenos grupos takfiristas do Daesh, o Secretário-Geral do Hezbollah, Sayed Hassan Nasrallah revelou que: « Os iranianos começaram a carregar um terceiro navio de derivados de petróleo e em breve estarao a caminho do Líbano », acrescentando, « O Líbano precisa de mais de três navios para enfrentar o próximo período, às portas do inverno ».
Referindo-se ao que está acontecendo no Afeganistão e à retirada dos Estados Unidos, Nasrallah afirmou dizendo: « O projeto que foi concebido contra a região está desmoronando », lembrando que : »Estamos testemunhando hoje no Afeganistão uma cena completa de uma derrota americana e uma queda e fracasso nos planos dos Estados Unidos na região ».
« A experiência do Afeganistão refletiu uma retumbante queda moral e se traduziu no tratamento que deram aos afegãos no aeroporto de Cabul », enfatizando que « foram os aviões e helicópteros americanos que transportaram os líderes e membros do Daesh da Síria para o Afeganistão ».
Sayed Nasrallah estimou que: “Os Estados Unidos pretendiam desorganizar todos os países vizinhos do Afeganistão”, destacando que “o Daesh é uma ferramenta americana, e a experiência do Afeganistão deve ser uma lição para todos os países”.
Sua Eminência destacou que: « Os europeus reconheceram que os Estados Unidos não os haviam consultado para se retirarem do Afeganistão, impuseram-lhes um fato consumado, questionando a credibilidade de sua aliança com os Estados Unidos », destacando que: « Aqueles que apostaram nos Estados Unidos devem aprender lições com a maneira como tratam seus aliados no Afeganistão ou em qualquer outro lugar ».
Além disso, Sayed Nasrallah sublinhou que: « A lei de César não era apenas um cerco contra a Síria, mas também um cerco contra o Líbano ».
Confirmando que: « A lei de César fechou as portas para a maioria dos libaneses que desejassem investir na Síria », explicando que « qualquer projeto de reforma da infraestrutura libanesa que pudesse reviver a economia libanesa, como a eletricidade, foi impedida pelos EUA ».
Da mesma forma, o Secretário-Geral do Hezbollah estimou que: « Sem a proibição e veto americanos, poderíamos ter revivido os setores de eletricidade e gás no Líbano », observando que « se os libaneses tivessem levantado suas vozes aos americanos, teríamos obtido isenção de suas sanções”.
Acreditando que isenções não faltam na política dos EUA, « Então eles não permitiram, excepcionalmente, que o Irã vendesse seu petróleo ao Afeganistão »?
Por fim, sua Eminência insistiu « Na formação de um governo o mais rápido possível », deplorando « a frouxidão ou mesmo a indiferença dos líderes políticos diante dos gritos dos libaneses nas filas intermináveis de carros em frente aos postos de gasolina, ou as lágrimas de mulheres em frente as farmácias ou vítimas do Exército Libanês que foram martirizadas, queimadas vivas, durante a explosão de Tilal, em Akkar, no norte do Líbano”.
Principais ideias de seu discurso:
Celebramos a comemoração da segunda libertação do Líbano, a primeira sendo a de 2000 da ocupação israelense, e a segunda é a libertação da fronteira oriental do Líbano, ou seja, nossas montanhas e colinas no Beqaa e no Baalbeck-Hermel da presença dos grupos Takfiristas do Daesh e outros facções partidários.
Insistimos nesse tipo de comemoração para aprender as lições, é o que quem tem consciência sempre faz para estudar e rever, sem parar, as repercussões dessa vitória. Porque com o tempo se revelam certos pontos e certas dimensões e verdades, também para recordar os sacrifícios colossais que permitiram esta vitória e para saudar os homens e mulheres que contribuíram para esta vitória que não teria acontecido sem o sangue e as lágrimas.
O que aconteceu há alguns anos foi um projeto arquitetado contra esta região, o Daesh tinha por projeto ocupar toda a Síria de Aleppo a Homos, via Damasco. No entanto, o Daesh ocupou grande parte da Síria, Iraque e parte do Líbano, se você se lembra do mapa do Daesh, Iraque e Síria formaram o califado do Daesh. Seu plano era amarrar Palmira a Qalamoun e, se pudesse, a batalha teria sido mais difícil. A batalha travada pelas forças sírias e o Hezbollah impediu que o Daesh avançasse e ligasse Qalamoun a Palmira para formar seu califado.
Daesh e Al Nosra compartilham a mesma ideologia, sua discórdia era administrativa. O Daesh foi apoiado por potências regionais e internacionais, transferindo milhares de homens armados na região, no Iraque e na Síria, e ao mesmo tempo a mídia árabe tentava pintar uma imagem positiva desses pequenos grupos terroristas chamando-os de rebeldes, até a embaixada dos EUA os chamava. No entanto, quando a situação se voltou contra eles, e com a chegada ao poder do presidente Trump nos Estados Unidos, este último confessou que o Daesh foi criação de Hillary Clinton e, portanto, do governo Obama, confissões feitas por vários funcionários norte-americanos, gravadas e divulgadas nas redes sociais.
Esses pequenos grupos vieram para nossa região como uma extensão do projeto americano na região, a batalha contra o terrorismo takfirista se misturou na medida em que reuniu em suas fileiras: as forças sírias, o Hezbollah, os habitantes da região de fronteira Leste e o exército libanês, a batalha pela libertação do Líbano não foi exclusivamente libanesa, foi sirio-libanesa e não teria terminado em vitória sem coordenação e cooperação entre os dois países.
No Líbano, o Daesh era uma ameaça constante para a periferia, o Vale do Bekaa, Beirute e o Exército, e isso foi registrado em seus vídeos. A ocupação do Daesh das colinas e montanhas libanesas, em especial em Ersal, ameaçou as cidades vizinhas, com seus mísseis atingindo aldeias vizinhas, carros-bomba enviados para os subúrbios ao sul de Beirute, ataques ao exército libanês sequestrando seus soldados e oficiais.
Diante dessa realidade, o estado libanês não foi capaz ou mesmo impotente de reagir para recuperar seu território em termos de soberania, nem para libertar os militares libaneses, nem para acabar com os atentados com carros-bomba contra nosso povo. A embaixada americana ameaçou o governo libanês de tomar tal iniciativa em suspender a ajuda ao Exército Libanês, e estou pesando minhas palavras porque estou divulgando essas informações.
Sob a presidencia do General Michel Aoun, a situação mudou porque o presidente se recusou a cumprir as ameaças e diretivas dos EUA de não se envolver na luta contra o terrorismo takfirista. A mídia e o apoio logístico que o Daesh recebeu de certas forças políticas libanesas sob o título de ajuda humanitária não impediu esta segunda liberação.
Suas posições revelam a mentira de seus slogans sobre a soberania sacrossanta. Em frente, os habitantes da fronteira oriental, cristãos e muçulmanos decidiram lutar contra o Daesh chegando a se opor aos seus partidos políticos, o Hezbollah apenas interveio para responder ao seu apelo, como parte de seu dever humanitário e moral.
O Hezbollah interveio quando teve certeza de que o estado havia abandonado sua missão e sua responsabilidade de defender seu povo.
As circunstâncias da batalha foram extremamente difíceis: a geografia, o clima são implacáveis, apesar disso, muitos voluntários compareceram, deixaram a universidade, o emprego e muitos morreram mártires.
As montanhas foram livres da presença do Daesh de uma forma muito estudada, e temos buscado alcançar a libertação com o menor custo possível.
O caso terminou com a decisão oficial de se envolver na batalha de libertação com o Exército Libanês, combatentes do Hezbollah e residentes da fronteira oriental lado a lado.
Do lado sírio, o Exército Sírio e os comitês do povo sírio lutaram em coordenação com o Exército Libanês, o Hezbollah e o povo da região que deu as boas-vindas aos nossos combatentes e os respeitou.
Observe que esta batalha não terá alcançado sua vitória sem o extremo apoio da República Islâmica do Irã, enquanto os EUA apoiaram o Daesh, pior que impediram o Líbano de recorrer ao seu exército para expulsar o Daesh de seu território.
Esta nova experiência entre o Hezbollah e o Exército foi um sucesso total em termos de coordenação.
Questões lógicas: Quem realizou a libertação da fronteira oriental? O conselho de segurança? A Liga Árabe? Visite a fronteira leste e pergunte a seus habitantes: quem repeliu o Daesh?
Resposta: São as armas do Hezbollah que permitiram essa libertação, é a equação armada do Hezbollah e as pessoas que alcançaram essa vitória. Dizemos e vamos dizer de novo: Se você voltará, voltaremos.
Essa vitória repercutiu na Síria e no Iraque e sabotou o projeto americano-takfirista-sionista na região.
Derrota total dos Estados Unidos no Afeganistão
No Afeganistão, descobrimos que as propagandas e os discursos americanos sobre democracia, direitos dos povos e direitos humanos são falsos porque os resultados dos seus atos foram saquear a riqueza do país e não impor hegemonia na região.
Hoje as forças americanas se retiraram diante de um punhado de homens, os Estados Unidos admitiram seu fracasso e a administração democrata tem vergonha dessa derrota, especialmente para os republicanos.
Como tinha dito antes, devemos analisar escrupulosamente o que está acontecendo no Afeganistão, devemos estudar suas repercussões estratégicas, a cena no Aeroporto de Cabul onde as pessoas se acotovelam para fugir do Afeganistão é incrível. Essas pessoas eram tradutores ou agentes que trabalharam para os EUA.
A cena da decolagem do avião de carga americano, da qual pessoas caíram, é uma cena lastimável que reflete esse fracasso terrível. O cargueiro americano não pensou em deixar vagas para esses afegãos que cooperavam com os Estados Unidos, eles os abandonaram, sem se importar com seus destinos.
Pior ainda, os Estados Unidos consideraram salvar a vida de cães e gatos mais importante do que salvar a vida de afegãos, um político americano pediu para evacuar as casas dos animais, garantindo-lhes lugares em cargueiros americanos, o que gerou polêmica nos Estados Unidos. Além disso, os aviões americanos estavam cheios de caixas de rum, uísque, comida, etc., mas não havia espaço para as pessoas. Isso reflete a total degradação moral dos americanos, quando os animais e o vinho são mais importantes do que as vidas dos afegãos que cooperaram com as forças de ocupação no país.
Devemos parar nessas cenas porque elas ilustram a verdadeira natureza da América. No entanto, Daesh aproveitou a oportunidade para realizar um ataque suicida no meio da multidão. Mas o Daesh é feito dos Estados Unidos. O governo dos americanos transportou membros do Daesh da Síria e do Iraque para o Afeganistão para causar uma crise, lutando lá, pois o Daesh é uma ferramenta dos Estados Unidos.
Os europeus admitiram ter aprendido a lição. O representante da UE disse que não tinha informações sobre o acontecido e lamenta o ato. Os europeus não foram consultados pelos EUA, eles têm forças no Afeganistão, ninguém pediu a opinião deles. Certos Estados vão questionar a credibilidade dessa aliança, « Devemos nos reorganizar de acordo com a realidade do mundo e não como queremos, porque os Estados Unidos não são mais um aliado confiável”. Essa deve ser uma lição para quem aposta nos Estados Unidos.
A lei de César é um cerco à Síria e ao Líbano
Quanto ao Líbano, vozes se levantaram para questionar a existência de um cerco americano contra o povo libanês. Estas são as mesmas vozes que negaram a ameaça do Daesh ou estas pessoas não vivem na fronteira oriental, desde que não residam em Béqaa e permaneçam enclausuradas na sua torre de marfim, não sentem qualquer ameaça e por isso eles não são prejudicados pela crise humanitária que o povo libanês enfrenta. Então, eles não sentem nenhuma dificuldade. Mas pela natureza do nosso país, nós não vivemos em um cerco total, nós temos acesso ao mar, ao aeroporto, e as fronteiras terrestres. O fato que os Estados serão impedidos de lucrar com suas participações em nossos bancos, créditos ou investimentos. O jogo é de correr risco e cair sob o julgo das sanções americanas no mesmo tempo impedem o Líbano de se relacionar com a Rússia e não com os Estados Unidos. A China é uma forma de confinamento.
A lei de César é um cerco contra a Síria e o Líbano. Quando a guerra na Síria terminou e os projetos de reconstrução foram lançados, muitos empresários e empresas libanesas de todos os níveis quiseram investir na reconstrução do país sírio. Eu sei os nomes de empresas libanesas pertencentes a várias correntes políticas; os mais divergentes não se opõem a ela. A lei de César fechou a porta para os libaneses.
Foi um golpe para a economia libanesa. A menos que os Estados Unidos queiram que invistamos em Israel. O Líbano foi proibido de resolver seus problemas, como eletricidade. No entanto, quando a Embaixada dos Estados Unidos concorda em entregar gás do Egito via Jordânia, essa autorização é uma admissão de que os Estados Unidos desempenharam um papel na crise econômica e humanitária do Líbano. Prova de que os Estados Unidos podem fazer exceções à lei de César. Os libaneses fizeram lobby para resolver a crise, mas o veto americano os deteve. Hoje os Estados Unidos mudaram de posição porque decidimos importar petróleo do Irã.
Se, há alguns anos, os libaneses tivessem levantado a voz contra os EUA, poderíamos ter obtido exceções à lei de César. Prova de que é possível, o ministério do petróleo iraniano anunciou que retomará suas atividades de suprimento das necessidades petrolíferas do Afeganistão. O que significa que o Irã estava vendendo seu petróleo ao Afeganistão sob ocupação dos EUA! O Irã vende para todos os países da região e, portanto, a exceção é possível.
Agora o Líbano está passando pela pior das crises e, se somos mais importantes do que os seus cães e gatos, os americanos devem abrir exceções para o gás iraniano, como fizeram no Afeganistão quando estiveram lá. Peço aos aliados dos EUA que façam exceções para o povo libanês.
A corda das mentiras é curta e, portanto, todos esses rumores sobre a frota iraniana logo serão expostos. Acrescento que combinamos com o Irã que um terceiro navio será abastecido com combustível para levá-lo ao Líbano. Tudo que ajude a aliviar a dor e o sofrimento dos libaneses deve ser feito, inclusive a carteira de fornecimento dos alimentos que deve entrar em vigor, claro que não é a solução, porque é preciso monitorar os cartéis de drogas e lutar contra o mercado negro.
O mais importante é a formação do governo, infelizmente o sangue das vítimas da explosão de Tilal, os gritos dos libaneses que esperam horas em seus carros em filas intermináveis na frente aos postos de gasolina não puderam forçar os políticos a formarem um governo.
Em relação à explosão do porto de Beirute, alertamos, contra a politização da investigação, a forma como ela é conduzida é arbitrária, a nota de instrução judicial emitida pelo juiz de instrução contra o Primeiro Ministro Hassan Diab é prova de que este juiz é movido por motivos de politização. Ele tentou anular seu estatuto, violando os artigos 70 e 71 da constituição, « se você quiser julgá-lo, mude a constituição ».
Esta decisão do juiz em relação ao Primeiro-Ministro é inaceitável e nós a condenamos.
Sayyed Moussa Sadr
Por fim, recordando a 42º lembrança do sequestro do Imam Moussa Sadr e dos seus dois companheiros, esta comemoração é dolorosa e triste para nós porque reflete uma agressão contra o Líbano e uma opressão contra uma personalidade de culto, fundadora da resistência contra a ocupação israelense, o homem dos oprimidos.
O objetivo de Muammar Gaddafi era claro em atingir a cultura da resistência, essa vontade de lutar, porque a resistência do Imam Sadr estava focada principalmente na libertação de al-Quds, sua resistência era operacional e não teórica, aberta a todos.
Imam Sadr permaneceu como um obstáculo para qualquer fitna, pois ele tentou evitar a guerra civil para preservar a unidade do Líbano, e lutar para libertar a Palestina. Seu sequestro visava a cultura da humanidade, sua ocultação forçada durante todos esses anos de resistência tem como alvo o Líbano em sua cultura multidimensional. Ele nos salvou do cinturão da miséria, incentivando o conhecimento, estudos e o trabalho.
Somos seus alunos e aguardamos o dia de seu retorno e permaneceremos fiéis aos seus princípios e à sua resistência contra a entidade sionista.
FIM
Source: Al-Manar