Discurso do Secretário Geral do Hezbollah, Sayed Hassan Nasrallah, na sexta feira dia 20 de maio de 2022 por ocasião da memória do grande líder dos Mártires Sayed Mustafá Badreddine.
Redação do site
O Secretário Geral do Hezbollah, Sayed Hassan Nasrallah, lançou um apelo a todos os protagonistas das recentes eleições legislativas de 15 de maio para unir seus esforços para tirar o Líbano de sua crise econômica.
Durante a celebração do sexto ano do martírio do comandante da Resistência Mustafá Badreddine, conhecido como Zoulfiqar, morto durante a guerra na Síria, Nasrallah assegurou que o Líbano terá que enfrentar desafios muito mais cruciais e perigosos do que armar a Resistência, lembrando que o Líbano está na lista de países em risco de colapso este ano.
O líder do Hezbollah lembrou que a única solução disponível é explorar petróleo e gás o mais rápido possível nas águas territoriais libanesas e não recorrer a dívidas com organizações internacionais.
Evocando em seu discurso transmitido pela televisão as façanhas da geração dos Mártires Mustafá Badreddine e Imad Moughniyeh, Sayed Hassan Nasrallah afirmou que: « foi essa geração quem protegeu o Líbano até hoje ».
O mártir foi um dos símbolos de toda geração de crentes e batalhadores. Recebeu todas as honras que uma pessoa pode obter, porque ele é um mujahid, um comandante jihadista e um mártir que passou a vida em uma luta feroz contra os poderes da arrogância, ele tinha uma reputação notável, a personalidade de um líder, de um homem de fé, de consciência, tinha perspicácia e entendimento estratégico, e gozava de grande coragem junto com grande entusiasmo. Estava presente, em todos os campos, a da Palestina, do Líbano e da Síria, de ter sido ferido na guerra, até cair como mártir. Ele passou a vida lutando contra sionistas e takfiristas”.
Lição da Nakba: Não confie nos regimes árabes
Em seu discurso, Sayed Nasrallah retornou à Nakba palestina comemorada todo dia 15 de maio:
“A Nakba de 15 de maio não foi apenas a Nakba da Palestina, mas a Nakba de todos os árabes. É um evento dramático cujas calamidades e sofrimentos não cessam há 74 anos, e os povos da região ainda sofrem com isso. Hoje, o mais importante nesta Nakba é a posição do povo palestino que começou batalhando há décadas, aumentando o nível das operações contra o inimigo, incluindo a Batalha da Espada de Al-Quds. O povo palestino fez sua escolha e hoje está presente em todos os campos e terrenos. Acredito que a maioria do povo palestino está plenamente convencida que a escolha da resistência é a única para sua libertação. Então a mensagem transmitida é que eles não esperam mais nada dos regimes árabes, da Liga Árabe ou das Nações Unidas ».
E para continuar: “A vantagem da geração de Mustafá Badreddine é que ela não esperou pelos países árabes, nem pelas suas organizações, ou pela comunidade internacional, muito pelo menos do Conselho de Segurança ». Essa geração optou pela resistência desencadeada nas primeiras horas da invasão israelense em 1982. As relações com o mundo árabe são certamente uma das constantes indiscutíveis, mas que ninguém tenha a ilusão de que é capaz de proteger Líbano quando não foi capaz de proteger a Palestina quando era unida e livre. Para enfrentar a ocupação e proteger o Líbano das ameaças, acho que ninguém pode contar com regimes árabes em si. Quem pode libertar e proteger nosso país é nosso povo, nossa vontade, nossa resistência, nossa cultura, nosso retorno a Deus e a força de nossas armas.
Quando o estado libanês normalizou com ‘Israel’
Sayed Nasrallah recordou o acordo que o governo libanês havia concluído com a entidade sionista em 17 de maio de 1983.
“Devemos lutar para ter um Estado justo e poderoso, com uma autoridade nacional, honesta, corajosa, e que coloque o interesse nacional acima de todos os outros interesses ».
A equipe que assinou o acordo de 17 de maio ainda está presente. É aquela que hoje reivindica soberania e quer preservar as relações com o mundo árabe, o que é uma grande mudança do que era quando se destacava do mundo árabe…
Na época, quando o acordo foi assinado, foi apoiado pela maioria dos deputados, todas as filiações confessionais combinadas, com exceção de dois deputados que devo mencionar: Najah Wakim e Zaher al-Khatib. Mas boa parte do povo libanês foi contra este acordo, incluindo os ulemás sunitas e xiitas, assim como a Síria e o Irã. Então, o que o estado libanês fez para proteger o Líbano do acordo de 17 de maio? Escolheu o pior, o de negociar com o inimigo, adotou uma posição fraca, de capitulação, e concluiu um acordo que mina a soberania do Líbano.
Depois de relembrar o papel do comandante e Mártir Mustafá Badreddine durante a ofensiva israelense de 1996, depois na operação de Ansariyeh, localidade no Sul do Líbano, em 1997, quando um comando israelense caiu em uma emboscada da Resistência, Nasrallah assegurou que foi a geração de Mustafá Badreddine que contribuiu para a libertação do Líbano no ano 2000 e que lhe deu verdadeira soberania e liberdade.
O Secretário-Geral do Hezbollah salientou que: « A Resistência tem contribuído para descobrir e desmantelar muitas redes de espionagem israelenses, em cooperação com os serviços de segurança libaneses », observando que estes « estão determinados a prosseguir com o desmantelamento das redes de ‘espionagem’, apelando ‘todos os líderes para apoiar esta tendência ».
Nasrallah acrescentou: “Dadas as capacidades da Resistência, os israelenses precisam de muitos agentes, e o recrutamento foi iniciado de maneira estranha e pouco profissional”.
Uma questão de escolhas políticas
O líder do Hezbollah passou a detalhar o papel do Comandante e Mártir Badreddine na guerra da Síria, indicando que ele estava liderando a batalha, inicialmente no Líbano antes de se mudar para a Síria.
“Os americanos ficaram surpresos que o Hezbollah se envolveu na batalha de Qusair, essa batalha resultou em mudanças estratégicas no decorrer da guerra. Foram nossos jovens combatentes, bem como os soldados do Exército Sírio, que mudaram o curso da batalha. A Batalha de Qusair contribuiu para a libertação das áreas fronteiriças. Em cada uma das batalhas Badreddine era o comandante central. Este chefe liderou a batalha na Síria, para desmantelar carros-bomba no início do confronto com o terrorismo takfirista e depois foi para os mesmos lugares onde estavam planejando os ataques suicidas. As escolhas da nossa equipe política sempre foram acertadas e venceram desde 1982 até hoje. A questão no Líbano é uma questão de escolhas políticas, desde a invasão israelense até os dias atuais, passando pela guerra mundial que foi desencadeada contra a Síria ».
Desafios muito perigosos
Sayed Nasrallah passou a discutir a atual situação política no Líbano:
“As divisões no Líbano ainda estão lá e hoje são agudas e, portanto, estamos enfrentando desafios ».
Aos que discutem as filiações nacionais uns dos outros, dizemos: « Somos os mais preocupados em preservar o país e sua identidade. Somos daqui, nascemos aqui e aqui seremos enterrados. Não temos um segundo passaporte ou casas no exterior ou contas bancárias. Ninguém deve esperar que vacilemos ou abandonemos nosso país pelo qual derramamos todo esse sangue precioso… Nós, no Líbano, somos hoje confrontados com grandes e muito perigosos desafios… O desafio iminente é o da crise econômica, a escassez de pão, remédios, eletricidade, e não o problema das armas da Resistência. A companhia de eletricidade avisa que o Líbano está à beira da escuridão total. O dólar está subindo chegando hoje a 31 mil liras. Medicamentos contra doenças como o câncer não se encontram em lugar algum. O preço de vinte litros de óleo combustível pode chegar a um milhão de liras. O problema não é o armamento da Resistência. O problema é econômico e vital”.
Comecem a explorar o petróleo
Sayed Nasrallah lembrou as recentes declarações do Ex Secretario, enviado da administração americana para o Líbano, David Schenker perante o Congresso americano, quando falou dos aliados dos Estados Unidos.
“Schenker, chamou os seus parceiros, que são aliados dos EUA, os chamou de narcisistas e chantagistas, o que significa que eles não se importam com os interesses do país e da população, pois ele sabe de quem está falando. Segundo especialistas econômicos mundiais, a situação econômica de mais de 64 países do mundo, alguns dos quais na região estão entre os que se normalizaram com Israel, estao à beira do colapso, e um deles começou a vender seus ativos. O Líbano também faz parte. Nós, no Líbano, não temos tempo para isso, e isso requer uma ação urgente no Parlamento e no processo de formação de um governo, essas são prioridades ».
Insisto mais uma vez na necessidade de nos abrirmos ao Oriente e ao Ocidente e, sobretudo, não sucumbir aos desejos e à cólera dos Estados Unidos. Devemos restabelecer as relações com a Síria. O Líbano é o que mais se beneficia, para lidar com a crise de deslocamento entre outros.
« Não temos o luxo do tempo e estamos diante de prazos iminentes e isso é muito sério. A extração de petróleo é a principal porta de esperança para sair da nossa crise, e não mendigar e implorar por empréstimos do Banco Mundial. Começar a trabalhar nos Blocos do Sul que estão em águas territoriais libanesas incontestadas, aqueles reconhecidos como tal pelo estado libanês, como disse o chefe do parlamento Sr. Nabi Berri. Inicie os contatos com as empresas petrolíferas, e vamos acompanhar essa questão do nosso lado. Esta é a maneira mais clara, direta, importante e honrosa de usar o tesouro que está em nosso mar para salvar nosso país”.
Fonte: Al Manar