Discurso do Secretário Geral do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, terça feira 07 de Julho de 2020, sobre os últimos desenvolvimentos locais e regionais.
Redação do site
« Quando comermos o que cultivamos e vestirmos o que tecemos, nos tornaremos um povo soberano », afirmou na terça-feira, 07 de julho, o secretário-geral do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, em discurso sobre a crise econômica no Líbano e a política de asfixia exercida pela administração americana contra o povo libanês.
Nesse sentido, Sayyed Nasrallah anunciou o envolvimento total do Hezbollah na batalha pela « resistência agrícola e industrial, a fim de corrigir esses dois setores e salvar todo o Líbano ».
Em seu discurso, o líder do Hezbollah garantiu que a pressão dos EUA contra o Hezbollah não será bem-sucedida. « Sua política de sufocar o Líbano fortalecerá o Hezbollah e enfraquecerá seus aliados. Além disso, pressionará todos os partidos no Líbano a se alinhar completamente ao lado do nosso eixo ».
No nível regional, Sayyed Nasrallah afirmou o apoio do Hezbollah aos palestinos em sua luta contra o plano israelense de anexar a Cisjordânia e o Vale do Jordão.
Aqui estão os principais pontos do seu discurso:
Antes de tudo, antes de abordar a situação econômica e política no Líbano, gostaria de salientar que estamos nos aproximando da ocasião da guerra de Israel (12 de julho a 14 de agosto de 2006) contra o Líbano e a libertação dos Jrouds dos takfiristas Al Nosra e Daesh no Libano.
Situação econômica
A situação atual requer a cooperação e os esforços de todos. O colapso econômico-financeiro e a fome não se limitam a uma região ou comunidade específica, todos os libaneses são afetados por esta crise. Daí há necessidade de tratá-lo nacionalmente. Devemos pensar em todos os libaneses e residentes em solo libanês, que serão todos afetados em caso da crise.
Quando propusemos nos voltar para o Oriente, isso não significa que devemos excluir totalmente o Ocidente. Devemos cooperar e nos abrir a todos os países, que desejam investir ou ajudar o Líbano, exceto Israel.
Medos de se abrir para o Oriente
Alguns se opuseram à proposta de abertura ao Oriente, alegando que o Ocidente e os Estados Unidos constituem o oxigênio do Líbano. Mas o que você fará se os EUA quiserem impedi-lo? Outros levantaram preocupações sobre uma possível mudança na identidade do Líbano.
Se a China vier a investir no Líbano, isso não significa que queremos transformar nosso país em um regime comunista. O mesmo vale para o Irã. Não queremos transformar o Líbano em um modelo iraniano. O Irã, que resistiu por 40 anos diante das pressões e sanções dos EUA, goza de autossuficiência industrial, médica, militar e de petróleo.
Quanto o Banco Central economizaria se comprássemos combustível iraniano em libras libanesas?
Se alguém tem medo dos nossos aliados, eu digo a eles tragam combustível e comida de seus amigos. Nós não temos nenhum problema. Se a França deseja suspender o CEDRE e os EUA impõem sanções, o que fazemos então?
Não podemos ficar ociosos enquanto aguardamos os resultados das negociações do governo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Não devemos nos limitar a uma única opção para sair da crise. Temos que bater em todas as portas e procurar outras opções para evitar o colapso e a fome.
Não devemos nos resignar às pressões dos EUA e permanecer passivos. O povo e o estado devem agir para alcançar uma solução.
EUA e sua política de sufocar o Líbano não funcionará
Os libaneses estão ameaçados pelo colapso e pela fome, daí a necessidade de transformar a ameaça em uma oportunidade. Essa ameaça pode ser uma oportunidade para tirar o Líbano do impasse devido a políticas cumulativas e de pressoes dos EUA.
Quando a China propõe lançar projetos estimados em bilhões de dólares para ajudar nosso país, nossos funcionários devem tomar a iniciativa e entrar em contato com a gerência chinesa para discutir os projetos de investimento em questão. Que os líderes trabalhem e entrem em contato com os chineses para fazê-lo, em vez de espalhar rumores de todos os tipos, como indecisão chinesa em relação ao Líbano.
A possível ajuda chinesa provocou a ira de líderes americanos, incluindo Pompeo, Schunker e o embaixador dos EUA no Líbano, que lideraram um ataque amargo a qualquer possível abertura na China. Isso prova que o Líbano pode se livrar das garras dos EUA.
Quando começamos a abrir as portas com a China, Iraque, Irã e Síria, cresce a esperança dos libaneses e enviamos uma mensagem forte aos EUA: sua política de sufocar o Líbano não terá mais sucesso.
Lançamento de resistência agrícola e industrial
Durante décadas, os setores agrícola e industrial do Líbano foram seriamente afetados e sofreram negligência e falta de financiamento, uma vez que as políticas adotadas favoreceram o apoio ao setor de turismo. As políticas estaduais não subsidiaram a produção agrícola, pressionando os agricultores a jogar suas frutas e vegetais no chão, uma vez que seus custos não podiam competir com outros produtos em nível local ou regional.
Se alguém quisesse investir no setor agrícola ou industrial, ele poderia se beneficiar de apenas 5% a 10%, enquanto que se colocasse seu dinheiro no banco e sentasse sob o ar condicionado, ganhará mais do que isso. É essa política que nos levou a nos tornar um país consumidor líder, a ponto de favorecer a importação de oxigênio e água.
Uma das condições dignas de vida de um povo é ser produtor nos níveis agrícola e industrial. Para lidar com esse problema e se tornar um país produtor, o estado e o povo devem assumir suas responsabilidades. Todos os fatores são favoráveis, sejam terras agrícolas disponíveis ou o clima ou a capacidade da água. Tudo o que precisamos é de tomada de decisão, que também deve se aplicar à produção industrial.
Em relação ao Hezbollah, conclamamos os libaneses a iniciar a luta para corrigir os setores agrícola e industrial para enfrentar a crise e a fome. Decidimos que esta é a batalha do Líbano e de seu povo. Todo o Hezbollah, com todas as suas capacidades, estará no centro dessa batalha. Trabalharemos com mãos dadas para acabar com a fome. Nosso slogan nos últimos anos foi: » Estaremos lá onde precisamos estar » . Aos partidários da resistência, digo-lhes que na batalha da agricultura e da indústria estaremos presentes em vigor. Todos nós nos tornaremos agricultores para salvar todo o país.
Este é um novo período em nossa resistência. O mesmo vale para o setor industrial. Quando comermos o que cultivamos e vestirmos o que tecemos, nos tornaremos um povo soberano. A data de 07/07/2020 é a data do lançamento do jihad ou resistência agrícola e industrial.
Interferência flagrante por um país colonizador
No nível político, gostaria de mencionar a flagrante interferência da embaixadora dos EUA no Líbano, que se comporta como um alto comissário de um país colonizador. Esses procedimentos podem não ser novos, mas a novidade é que isso é feito à vista de todos.
Todos sabem que essa embaixadora ameaçou não prestar assistência financeira se essa pessoa não fosse nomeada para o cargo de vice-presidente do Banco Central. Este é uma diplomacia ou ato de um país colonizador?
Outro exemplo da interferência dessa embaixadora, quando mencionou a mudança do atual governo e emitiu condições para a formação do próximo governo. O povo e’ quem deve decidir se o governo fica ou renuncia, e não a embaixadora dos EUA!
Além disso, quando atacou na mídia o partido libanês (Hezbollah), que goza de grande popularidade, e proferiu contra ele acusações infundadas, sem que o Estado dissesse uma palavra. O mais perigoso é que incite os libaneses um contra o outro.
É nesse contexto que um Juiz patriótico e corajoso, Mohammad Mazeh, tomou uma decisão contra ela, isso prova que existem juízes corajosos no Líbano, que se atrevem a levantar a voz nessas difíceis condições, enfrentando as ações dos EUA. Pessoalmente, tenho orgulho da posição do Juiz Mazeh e apelo ao Conselho Judiciário Supremo para não aceitar sua renúncia.
Os deputados do bloco Fidelidade à Resistência assinarão uma petição que enviarão ao Ministério das Relações Exteriores para convocar a embaixadora dos EUA e exortá-la a respeitar as leis e normas ditadas pela Convenção de Viena sobre o papel dos diplomatas.
Apelamos a embaixadora dos EUA para não dar lições aos libaneses sobre liberdade e justiça. Seu país é responsável pela morte de milhões de pessoas inocentes e pelos saques da riqueza dos países da região, sem mencionar a discriminação racial contra seus próprios cidadãos. Seu país apoiou Israel em todas as suas guerras contra o Líbano, que deixaram dezenas de milhares de mártires e feridos.
Seu governo é até responsável, de acordo com as confissões de Trump, pela criação de grupos takfiristas como o Daesh.
Um último conselho para a administração dos EUA e para a embaixadora dos EUA no Líbano : vocês abriram uma guerra contra o Líbano e estao explorando o fracasso das políticas econômicas acumuladas por 40 anos, a fim de incitar o povo contra o Hezbollah, isolar e enfraquecê-lo. Mas isso não vai passar.
As guerras israelenses contra o Líbano fracassaram, o takfirismo foi derrotado, todos os seus esforços foram abortados. Suas tentativas são sua última arma hoje. Gostaria de aconselhá-lo: não perca seu tempo! A política de sanções não funcionará e o Hezbollah não se renderá.
Eu deixo aqui uma palavra muito clara: A política de apertar o laço, o bloqueio e as sanções não enfraquecerá o Hezbollah, mas o fortalecerá, e são seus aliados e sua influência que serão enfraquecidos. Os defensores da resistência se tornarão mais apegados ao Hezbollah. E obvio quando os americanos pressionam o país a entrar em colapso e fome, os outros componentes do povo libanês não terão escolha a não ser recorrer à resistência e a seus aliados locais e regionais. Através de sua política, o Líbano inteiro vai se alinhar com o nosso eixo.
Vou dar um aviso aos EUA: analisem que eu digo, abandonem sua política e não castiguem o povo libanês, porque vocês não alcançarão seus objetivos. Pare com este jogo, é uma perda de tempo.
Anexação da Cisjordânia
No nível regional, o plano israelense de anexar partes da Cisjordânia é a coisa mais perigosa que está acontecendo no Oriente Médio. Ontem, recebemos uma mensagem do chefe do Hamas, Ismail Haniyeh. Nossa preocupação com a crise econômica não deve nos fazer esquecer a causa palestina. E devemos permanecer ao lado de nossos irmãos palestinos em sua luta contra essa trama perigosa, cujas repercussões serão tão perigosas no Líbano quanto em todos os países da região. Estamos prontos para fazer qualquer coisa para bloquear e impedir o plano de anexação.
Source: Al-Manar