Discurso do Líder do Hezbollah, Sayed Hassan Nasrallah, na homenagem de condolências ao Eminente clérigo Cheikh Ahmad Zein, dia 31 de março de 2021.
Redação do site
O Secretário-Geral do Hezbollah, Sayed Hassan Nasrallah, disse que a hegemonia dos Estados Unidos na região está falhando e suas prioridades são China e Rússia, e não a região, exceto Israel, propondo aos seus aliados regionais resolverem seus problemas com outros atores regionais, hoje melhor do que amanhã.
Sayed Nasrallah fez os comentários em um discurso durante a cerimônia de condolências ao eminente clérigo libanês Sheikh Ahmad Zein, falecido no mês passado, e a quem prestou grande homenagem, por sua firmeza e seu apoio inabalável à resistência contra o projeto sionista e seu firme apoio à causa da Palestina « do mar ao rio ».
Os EUA não querem que o Irã junte forças com a China e a Rússia
Referindo-se aos últimos desenvolvimentos no cenário internacional e aos novos rumos da administração dos Estados Unidos, Nasrallah ressaltou que esta dá prioridade agora à China e à Rússia.
Nasrallah deixou claro que o governo dos EUA não gostaria especialmente que o Irã formasse uma frente comum com a China e a Rússia. Segundo ele, o Irã está prestes a passar pela etapa de embargo e sanções. « O que se recusou a ceder sob sanções extremas e sob a ameaça diária de guerra, o Irã não dará hoje », concluiu.
“Os aliados regionais dos Estados Unidos devem saber que as prioridades dos Estados Unidos não estão mais na nossa região, com exceção de Israel. A hegemonia dos americanos está em declínio”, continuou.
O Sayed aconselhou esses aliados a não esperar mais pelos Estados Unidos, nem pelo mundo, nem pelos desenvolvimentos e a empreender diálogos internos e regionais para resolver nossos problemas por nós mesmos.
E para concluir sobre esta questão: “Os aliados dos Estados Unidos deveriam revisar seus cálculos. Hoje é melhor para eles do que amanhã”.
Uma farsa saudita que não engana líderes nem até crianças iemenitas
No arquivo do Iêmen, o líder do Hezbollah criticou a iniciativa da Arábia Saudita de encerrar a guerra, acusando-a de fraude e engano com a intenção de continuar a guerra de outras formas.
Citando as autoridades iemenitas que lhe contaram a sua percepção sobre as recentes iniciativas lançadas pelos americanos e sauditas desde o advento da nova administração, garantiu que as propostas feitas aos iemenitas, pelos Estados Unidos e pelo reino wahabita são « o fingimento que não enganará os governantes iemenitas ou mesmo as crianças iemenitas ».
“Um cessar-fogo sem o levantamento do bloqueio é um engano. Isso reflete o desejo de alcançar o que eles não poderiam realizar no campo militar. As iniciativas propostas são um convite ao diálogo sob a pressão de fome e das doenças. Isso tudo é uma farsa. O que os iemenitas estão pedindo é o fim do bloqueio militar e humanitário e acabar com a guerra contra seu país”, acrescentou.
Em declarações aos americanos e sauditas, aconselhou-os a não perderem tempo depois de terem experimentado que os iemenitas não cairam na sua armadilha. “Acabem com a guerra e o bloqueio”, aconselhou-os a fazer.
Ninguém fala mais sobre o Acordo do Século graças aos palestinos
O chefe do Hezbollah também se referiu em seu discurso ao Acordo do Século que havia sido defendido pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Acreditar que ninguém mais fala sobre isso. “A perseverança dos palestinos é a principal causa para que esto não fosse concretizado. Ninguém mais fala sobre isso. Este acordo morreu graças aos palestinos e à eliminação de um de seus três lados”, que era Trump.
O segundo lado deste acordo é o Benjamin Netanyahu que: « Está em uma posição ruim internamente », dadas as últimas eleições legislativas ao final das quais « ele não tem condições de formar um governo ». “Está claro que a situação interna israelense é crítica. Eles têm um problema de liderança e um problema de confiança. Há uma explosão da vida política”, refletiu Nasrallah.
Diante das ameaças, o eixo de resistência vai acumulando suas capacidades
Sayed Hassan relata que as autoridades israelenses continuam expressando sua preocupação pelo desenvolvimento do Eixo de Resistência que está trabalhando incansavelmente para juntar e aumentar suas capacidades.
« O Eixo da Resistência passou por uma das fases mais perigosas da sua história nos últimos anos e enfrenta ameaças com muito trabalho para aumentar suas capacidades”, afirmou.
A situação no Líbano não é desesperadora
Durante seu discurso, Sayed Nasrallah rapidamente se referiu à situação no Líbano, garantindo que não havia esperança. “Há um esforço individual e colegiado de vários protagonistas para remover os obstáculos. Todos devem saber que o Líbano está sem tempo e devemos chegar numa solução”, concluiu seu discurso.
Sheikh Ahmad Zein: Um homem de clarividência
Na primeira parte de seu discurso, Nasrallah elogiou o Sheikh Ahmad Zein, o ex-juiz sunita da cidade de Saida e presidente do Conselho de Secretários da Associação dos Ulemas Muçulmanos do Líbano, que inclui clérigos sunitas e xiitas. Ele morreu no mês passado e era um defensor ferrenho da resistência contra a entidade sionista.
“Zein foi um homem de clarividência, que se distinguiu por suas firmes posições de princípio, especialmente em termos de seu apoio infalível à causa palestina. Era um dos religiosos cujas posições unificadoras entre os muçulmanos abortaram o plano de sedição entre sunitas e xiitas no mundo islâmico », é com essas palavras que o líder do Hezbollah prestou uma grande homenagem, enumerando as suas múltiplas qualidades, deste religioso libanês, Nasrallah cita, sobretudo, a sua grande coragem, incluindo a de exprimir abertamente as suas posições, mesmo que lhe tenham causado transtornos e muitos prejuízos.
Sheikh Zein: o homem de consistência no apoio à Palestina
O chefe do Hezbollah fala sobre as qualidades do Sheik Zein:
« A qualidade que gosto de evocar nele é sua firmeza no caminho da resistência e as suas ações unificadoras entre os muçulmanos, desde o início da sua jornada ». « Ele nunca se deixou influenciar pela turbulência ou pela explosão de paixões. Ele não era como muitos políticos, religiosos e ativistas que mudam de ideia diante dos acontecimentos mais agitados. Mesmo os mais perigosos, suas posições têm sido constantes, firmes, sérias, sem retrospecto ou qualquer hesitação. Não é como alguns que apoiaram a causa palestina e mudaram sua posição inteiramente sob a influência dos petrodólares, busca pelo poder ou por desespero”.
Segundo Sayed Nasrallah, o Sheikh Zein deve essa constância de posições e princípios à fé, à sinceridade que tem marcado sua personalidade.
“Zein construiu um princípio básico sólido que gira em torno da Palestina, Al-Quds, a terra ocupada do mar ao rio, os sacrossantos, o povo palestino oprimido, qualquer que seja sua terra na Palestina ocupada ou fora dela, ou seja, os refugiados. Este povo palestino que luta desde bem antes de 1948 e clama pelos muçulmanos e pela liberdade do mundo”.
Sheikh Zein: o homem que sempre apoiou o Irã
Nasrallah também lembra o apoio do Sheikh Zein à Revolução Islâmica no Irã e depois à República Islâmica.
“Durante a Revolução Islâmica no Irã, o povo iraniano, que e’ xiita de fé, derrubou o regime do Xá. Lembro-me de que alguns clérigos xiitas na época se opuseram ao Imam Khomeini, alegando que ele estava derrubando o único governador xiita da região. O Xá colaborava com os Estados Unidos, era aliado estratégico de Israel e oferecia petróleo de graça. Ele era o inimigo do povo palestino. Quando a revolução invadiu a Embaixada Israelense, o Sheikh Ahmad deu as boas-vindas aos movimentos de libertação que apoiam a Palestina.
Sheikh Zein foi um dos primeiros a apoiar esta revolução. Ele o fez com grande coragem e até jurou lealdade ao Imam Khomeini. Durante a guerra iraniana, e as campanhas de acusações e rumores hostis foram travadas contra o Irã, patrocinadas por países ricos em petróleo, o Sheikh Zein não vacilou nem mudou de posição. Apoiou o Irã. « Seu apoio continuou após a morte do Imam Khomeini e o advento do Aiatolá Ali Khamenei”.
Uma posição honrosa durante a guerra na Síria
Mas de acordo com Sayed Nasrallah, a posição mais honrosa do Sheikh Zein foi durante a guerra na Síria:
« A posição mais difícil foi na Síria e durante a qual o Zein teve que suportar muita pressão junto com outras personalidades sunitas religiosas ou nacionais.
O que aconteceu na Síria envolveu muita manipulação, desinformação e mentiras ».
Hoje, 10 anos depois, as coisas ficaram mais claras sobre os verdadeiros patrocinadores desta guerra. Mas a posição que ele assumiu e que nós assumimos foi justa e em harmonia com nossos princípios, porque é o apego à questão palestina que é o critério pelo qual as posições são avaliadas. « Da mesma forma, durante a Guerra do Iêmen, todos nós sabemos quem estava por trás dela e seus verdadeiros objetivos. Mas o soberano saudita queria dar outra dimensão. O Imã das orações de sexta-feira declarou abertamente que se tratava de uma guerra sagrada, a dos sunitas e xiitas ».
A arma da sedição confessional, a última
Segundo Nasrallah, depois de ter usado todos os meios para enfraquecer o Eixo de Resistência, depois da vitória da resistência contra Israel no Líbano em 2006 e depois na Faixa de Gaza, dado o apoio que dela resultou no mundo árabe e islâmico, tudo isso permaneceu como uma arma de sedição comunal.
“Eu sempre disse que a última arma é a sedição comunitária, a guerra sunita-xiita ». Eles tentaram desencaminhar as pessoas. Saber que o que está acontecendo na Tunísia não tem nada a ver com isso. O mesmo vale para a guerra na Líbia. o que aconteceu no Egito também não tem nada a ver.
Mas na Síria, no Iraque, porque há diversidade na comunidade, eles atraíram coisas para o conflito entre xiitas e sunitas.
E isso foi o mais difícil
Nestes 10 anos, seja no Líbano, Síria, Iraque, Bahrein ou Iêmen, quem tem posto o olho da sedição são as posições dessa elite sunita e à sua frente o Sheikh Ahmad Zein. É uma posição que deve ser valorizada e agradecida por todos os nossos povos.
Se a sedição tivesse explodido, teria devastado tudo.
No entanto, é por causa dessas posições que o Sheikh Zein e seus colegas sofreram tantos danos e isso nos machucou muito. Sua postura é como o sangue que foi derramado na resistência.
Um modelo de fraternidade entre sunitas e xiitas que deve continuar
O caminho do Sheikh Zein é um grande símbolo da unidade islâmica, pelo qual ele passou toda a sua vida. Este caminho é um depósito, seu legado deve continuar.
A Associação de Ulemas Muçulmanos do Líbano, da qual Sheikh Zein é um de seus fundadores, também é um tesouro que deve ser preservado. A associação apresenta um exemplo único da ação islâmica no mundo. Sua peculiaridade é que a relação entre religiosos sunitas e xiitas é fraterna e unida. Eles são uma família. Este exemplo deve ser generalizado no mundo islâmico.
FIM