Discurso do Secretário-Geral do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, sobre os desenvolvimentos políticos locais.
Redação do site
Durante um discurso transmitido ao vivo em vários canais libaneses por satélite, o Secretário-Geral do Hezbollah Sayyed Hassan Nasrallah profeiru: « Concluímos todas as etapas administrativas e logísticas necessárias para importar gasolina do Irã, e se o estado libanês anunciar sua impotência para resolver esta questão, nós estamos prontos para receber essa gasolina na costa libanesa, e não necessariamente via porto de Beirute”.
Por meio de seu discurso, sua Eminência esclareceu a posição do Hezbollah sobre certas questões.
A começar pelas « Falsas alegações americanas para justificar o seu apoio ao exército libanês perante a sua opinião pública, segundo as quais este apoio visa fortalecer as capacidades militares do Exército Libanês por ser a única instituição capaz de enfrentar o Hezbollah ».
« Lembramos que fomos nós que defendemos e ainda defenderemos a equação de ouro: Exército, povo e Resistência, pois essa equação nos permitiu derrotar o inimigo israelense ». Enfatizando: « A administração americana é quem impede o nosso exército de equipar-se de capacidades balísticas porque essa administração teme que este exército goze de uma doutrina inabalável que pode ameaçar a segurança do inimigo israelense”.
Quanto à formação do Governo Libanês, sua Eminência denunciou certas vozes libanesas que acusaram o Hezbollah e o Irã de impedir sua formação: “Alguns insistem que são o Hezbollah e o Irã que estão impedindo essa formação enquanto aguardam acordos. Enquanto em Vienna, o arquivo libanês não foi mencionado, e são seus aliados que estão tentando vincular o arquivo nuclear a outros arquivos”.
E para adicionar: « Mesmo nas conversações Sirio-Sauditas, nenhuma menção sobre o Líbano, sim, a Arábia mencionou o Iêmen, mas nenhuma palavra sobre o Líbano ».
Ainda no arquivo do governo, Sayyed Hassan Nasrallah, levantou a questão da neutralidade de que o Hezbollah foi acusado no enfrentamento da crise governamental: “Como um lembrete, durante a iniciativa francesa, eu fui o único a ter respondido ao discurso do Macron destacando que o Presidente da República Libanesa é um parceiro na formação do governo porque é um direito constitucional que ninguém tem o direito de extrair, não é neutralidade”.
Por fim, no que se refere à crise social que atravessa o Líbano, sua Eminência lembrou que : “Todas as forças políticas do Líbano têm amigos fora, por que não tiram proveito deles? Se alguns têm amigos iranianos, eles pedem sua ajuda e se outros têm amigos sauditas ou americanos que criem uma delegação para pedir-lhes ajuda em essência, em remédios e nas necessidades. Por que eles ficam de braços cruzados, apenas jogando acusações contra aqueles que buscam salvar o povo libanês? Além disso, pergunto: Para onde foram os dez bilhões de dólares que os Estados Unidos admitiram ter oferecido ao Líbano? Para onde foram os 20 bilhões de dólares que a MBS admitiu oferecer ao Líbano? Você gastou na infraestrutura do país, nos hospitais, ou em escolas? »
PRINCIPAIS PONTOS DO DISCURSO:
1- A decisão dos Estados Unidos de bloquear dezenas de sites iranianos e pró-iranianos
Esta medida americana não é acidental, pois tem como alvo as empresas e redes locais que desempenharam um papel no apoio aos palestinos na batalha da espada do Al Qods. No entanto, o mais estranho é que os sites visados são, em sua maioria, puramente religiosos, e não políticos. E, portanto, esta medida contradiz a liberdade de expressão e viola os direitos humanos.
Paradoxalmente, os meios de comunicação dos regimes ditatoriais vagam livremente no espaço cibernético, enquanto lançam seu veneno da mentira e da difamação com toda impunidade.
2- « Apoio » dos EUA ao Exército Libanês
Nos últimos dias, ouvimos declarações de alguns oficiais americanos para justificar à mídia dos EUA, ao Congresso ou à opinião pública americana seu apoio ao exército libanês sob o pretexto de que esta instituição é a única capaz de enfrentar Hezbollah.
É uma tentativa clara e limpa de provocar os libaneses contra o Hezbollah sabendo que a resistência islâmica é formada por libaneses e coopera com o exército, esse incitamento é para o exercito se voltar contra o Hezbollah e vice e versa.
Deve ser lembrado que sempre pedimos e até mesmo desdobramos esforços, propusemos ideias de cooperação militar com nossos aliados regionais e internacionais para o fortalecimento das capacidades balísticas e militares do Exército Libanês para que este possa defender a dignidade do nosso país. Como um lembrete, oferecemos ajuda iraniana incondicional ao governo libanês para o exército seja equipado com caças, submarinos, destróieres, equipamentos, etc., e em vez de acolher esta iniciativa fomos acusados injustamente e por completo.
E ainda hoje, reiteramos que o exército é a única garantia para a unidade nacional do Líbano sabendo que existem instalações perigosas que estão surgindo na região e ameaçam a unidade do país.
Em nossa cultura de resistência, o Exército faz parte da equação de ouro: exército e resistência e povo. Os sargentos, os comandantes deste exército são filhos deste povo do qual fazemos parte, a doutrina do exército é inabalável perante o inimigo israelita, o exército continua a ser uma potência independente do poder político.
A administração dos Estados Unidos impede o reforço do exército em todos os níveis, impede que este exército desfrute de capacidades militares dissuasivas e, portanto, se contentam em fornecer-lhe uma ajuda substancial, apenas o suficiente para sobreviver e não ser capaz de enfrentar o inimigo. Portanto, o governo dos Estados Unidos não precisa nos responsabilizar pela fraqueza do Exército, pelo contrário, especialmente nessas circunstâncias.
3 – A Formação do governo
Alguns políticos e personalidades libanesas, até mesmo a mídia libanesa persistem em seus discursos, sistematicamente acusando o Hezbollah e o Irã de obstruir a formação do Governo L Libanês enquanto se aguarda o seguimento dos acordos de Viena.
Pela enésima vez, repito o que já disse muitas vezes, sei para sua informação, que em Viena nenhuma das partes mencionou o Líbano, o único arquivo na mesa de negociações é o arquivo nuclear, e mesmo o Irã ainda se recusa a discutir qualquer outro matéria. São seus aliados, seus amigos, que estão tentando vincular a questão nuclear a outras questões.
Ninguém mencionou o Líbano ou mesmo que não esteja na agenda das conversações americano-iranianas.
Mas ainda assim, em relação às conversas sirio-sauditas, meus amigos iemenitas confirmaram para mim que em todas as essas conversas nenhuma menção sobre o Líbano, sim, a Arábia mencionou o Iêmen, mas nenhuma palavra sobre o Líbano.
E quero enfatizar que o Irã nunca negociou por ou em nome de ninguém, a menos que solicitado a fazê-lo e apenas no âmbito do respeito ao direito internacional público em termos de mediador.
Além disso, lembro-vos: durante as manifestações de 17 de outubro, declaramos que éramos contra a renúncia do governo e contra as eleições antecipadas, porque somos contra um vácuo de governo, mas a renúncia do Primeiro-Ministro foi imposta, então, nós fizemos esforços para formar outro governo o mais rápido possível, e mesmo depois da explosão de 4 de agosto no porto de Beirute, fomos contra a renúncia do governo de Hassan Diab, e ainda hoje somos vítimas de mentiras e difamações ao nos acusar de querer impedir a formação de um governo. Aqueles que nos acusam deste jeito não se importam com o futuro do país, o bem-estar do povo libanês ou o interesse público, essas pessoas estão ressentidas e procuram apenas acertar contas pessoais.
Desde a nomeação do Primeiro Ministro Saed Hariri, pedi ajuda de um amigo, a saber, o líder do Parlamento Libanês Nabih Berri, para acelerar o processo de formação do governo. A iniciativa de Berri progrediu nomeadamente um acordo sobre o número de membros do governo, ou seja, 24 ministros, e também sobre a distribuição das pastas ministeriais de acordo com a denominação porque o regime do país assim o exige. Então, dois passos à frente.
No entanto, foi noticiado pela mídia que um acordo foi fechado com base em um triplo de oito, essas observações provocaram um debate acalorado e mal compreendido, nossos aliados e nossos adversários acreditam que este triplo de oito ministros é um novo costume político que está se firmando no país.
A expressão trigêmeo de 08 está incorreta, não há trigêmeo de 08 sugerindo que haverá oito ministros para os xiitas, outros oito para os sunitas e oito para os cristãos. Isso é impossível de conseguir devido ao emaranhado de alianças entre as várias forças políticas.
Assim, não se podem imaginar oito ministros que ficarão apenas para o presidente, não se pode reduzir a representação do governo a essa forma de equação totalmente errônea, sim, tentamos por meio desse tipo de equação proposta as denuncias feitas contra os xiitas.
5- O pedido de ajuda de Gebran Bassil
Em relação ao apelo lançado pelo chefe da CPL, o ex-ministro Gebran Bassil ao Hezbollah, mais precisamente a mim mesmo, gostaria de responder a certas vozes cristãs. Acompanhamos as reações ao seu discurso, que proferia insultos, comentários takfiristas contra Bassil, acusando-o de ter delegado o Hezbollah para cuidar dos assuntos cristãos.
No entanto, acompanhei o seu discurso e estudei-o: nunca mencionou o termo delegado, pelo contrário, muito simplesmente apelou à ajuda a um aliado, ato que faz parte do quadro natural de qualquer aliança, sublinhando que não é uma questão de pedir ao Hezbollah para administrar nossos negócios, mas para desempenhar o papel de árbitro.
Esta campanha lançada contra Bassil prova que estas pessoas não ouvem, não leem, não raciocinam e se raciocinam não se resignam porque os cegaram pelo seu ressentimento, pelo seu racismo religioso.
Pela minha parte, responderei a este apelo no quadro que explicarei mais tarde na minha intervenção. Sei também que nunca pensei que Bassil, através de seu apelo, estivesse tentando criar uma dissensão entre o Hezbollah e Amal, porque discutimos longamente e em detalhes durante nossas reuniões e, portanto, ele conhece perfeitamente a natureza dessa relação.
Além disso, a todos aqueles que acusaram Bassil de se jogar nos braços do Hezbollah para sair de sua crise, não quero reabrir os arquivos da guerra civil e lembrá-los a que « amigo » se refugiaram.
Em seu discurso, Bassil mencionou o termo árbitro ou não posso ser árbitro no sentido jurídico, especialmente não quero desempenhar o papel de árbitro porque não desejo impor uma sentença ou decisão devido à posição do Hezbollah, às circunstâncias do Hezbollah, a lógica do Hezbollah é muito diferente de qualquer outra força política e, portanto, não podemos aceitar submeter a ninguém, amigo ou aliado o que nos impomos, porque não acredito que eles possam suportar o que sofremos e, portanto, não podemos lamentar aos outros os que sofremos.
Em relação ao pedido de ajuda lançado por Gebran Bassil, já respondemos a este pedido com o chefe do Parlamento Nabih Berri.
Certamente podemos oferecer ideias e soluções, mas estou avisando, o tempo é curto, devemos encontrar uma solução para a crise rapidamente.
Ainda no arquivo do governo, vejo-me na obrigação de levantar a questão da neutralidade de que somos acusados no enfrentamento da crise.
Recorde-se que, durante a iniciativa da França, sou o único a ter respondido ao discurso de Macron salientando que o Presidente da República do Líbano é um parceiro na formação do governo, é seu direito constitucional e ninguém pode extraí-lo dele, isso não é neutralidade.
A « maioria » do parlamento quer o apoio direto ao Primeiro-Ministro Hariri e isso mostra, novamente, que estávamos longe de ser neutros.
Cada vez, sejam quais forem as circunstâncias, temos apoiado a lei, como por exemplo no que se refere ao terceiro veto, dissemos que os demais têm o direito de defender o direito de não serem reduzidos a fantoches. Novamente, não éramos neutros.
6- A crise socioeconômica:
Nos últimos dias, ocorreram contatos entre o Primeiro Ministro, o Banco do Líbano e outros dirigentes a respeito do financiamento da importação de gasolina. Fui informado que finalmente foi alcançado um acordo positivo nesse sentido e que o abastecimento de gasolina satisfará o país nos próximos três meses.
Sobre este assunto, recordo a minha promessa que lancei antes de alguns dias e que ainda mantenho. Se o estado não conseguir abastecer os postos de gasolina, nós entregaremos a gasolina necessária, trazendo do Irã. Nós já concluímos todas as etapas administrativas e logísticas para iniciar o trânsito de combustível. Resta dar luz verde a este encaminhamento.
Sobre este assunto, gostaria de sublinhar alguns pontos: Alguns libaneses riram da minha promessa, pensando que o Irã não tem gasolina sob embargo, são ignorantes, sem dúvida se esqueceram dos petroleiros iranianos que se dirigiram para a Venezuela, que ignorantes!
Alguns achavam que minha promessa causaria sanções, sabem que não passaremos pelo Banco Central e que esse petróleo iraniano vai chegar à costa libanesa, não necessariamente pelo porto de Beirute.
E se, investimos nossos relacionamentos com nossos amigos. Façam o mesmo. Vão para a Europa e os países do Golfo para trazer gasolina. Parem de ser passivos e ajam em vez de apenas ouvir dos sofrimentos diários das pessoas em frente aos postos de gasolina.
Os EUA disseram que entregaram US $ 10 bilhões em ajuda ao Líbano. Claro, não fomos nós que recebemos essa ajuda. Então, diga-nos o que vocês fizeram com essas somas de dinheiro. Mostre-nos o que vocês fizeram com os $ 20 milhões sauditas oferecidos aos aliados.
Temos tudo preparado para iniciar o encaminhamento de gasolina e combustível. Façam o mesmo, e eu oro a Deus para que vocês tenham sucesso em seus empreendimentos.
Na verdade, pedi informações a alguns especialistas nos últimos dias, disseram-me que, em seis meses, poderemos instalar refinarias em Zahrani e Trípoli, o que nos permitirá receber combustível bruto iraquiano. Repito: uma empresa está pronta para construir essas refinarias, mas aguarda o acordo das autoridades competentes.
O país caminha gradativamente para o levantamento total dos subsídios para certas necessidades básicas. Temos de apertar o cinto e preparar-nos para o pior, nomeadamente a racionalização do consumo. Devemos trabalhar juntos a nível nacional e formar uma comissão de todos os partidos políticos responsáveis por este colapso para encontrar soluções. Também apoiamos o projeto do cartão de arrecadação de fundos, que poderá sustentar milhares de famílias.
Uma palavra à população: sabotagem de locais públicos, bloqueio de estradas, tiroteio em posto de gasolina não resolvem de forma alguma a crise.
Temos muitas crises que assolam nosso país, mas desfrutamos de uma graça primária que é a segurança. Os libaneses devem se entender e serem pacientes para proteger a segurança interna. Alguns estão tentando arrastar o país para uma guerra civil, que serve aos interesses do inimigo acima de tudo.
Espero que na atual provação, combinemos esforços para garantir a sobrevivência do país.
Cito o exemplo do Hezbollah, que suporta campanhas diurnas e noturnas de insultos odiosos da Corrente do Futuro (Mostaqbal). Mas optamos por não responder. Não queremos polêmica. O país é querido por todos, mas certamente é mais querido por aqueles que apresentaram seu sangue e sua alma. Digo-lhe do ponto de vista religioso: é proibido proferir qualquer palavra nas páginas da socialização que possa causar uma « fitna » no país.
8- Finalmente, um grande obrigado às autoridades iraquianas que mostraram sua disposição de enviar um milhão de barris de petróleo bruto ao Líbano, apesar da crise econômica que atinge o Iraque. Da mesma forma, um grande obrigado às brigadas do Hezbollah no Iraque que anunciaram sua decisão de fazer parte da equação regional para a defesa da cidade sagrada de Al Quds e da mesquita de Al Aqsa.
FIM
Source: AlManar