Discurso do Secretário Geral do Hezbollah, Sayed Hassan Nasrallah, na sexta feira, 18 de agosto de 2022, na ocasião da fundação do futuro local turístico jihadista no acampamento da cidade de Janta no Beqaa.
O Secretário-Geral do Hezbollah, Sayed Hassan Nasrallah, afirmou que: « A questão da demarcação das fronteiras marítimas, a dos direitos do Líbano de explorar seu petróleo e gás, a de Karich, não está de forma alguma ligada à conclusão do acordo nuclear entre o Irã e os Estados Unidos ».
Falando por ocasião da inauguração do futuro local turístico jihadista, o acampamento de Janta, localizado na região de Beqaa, no norte do Líbano, (a 75 km da capital libanesa) sua Eminência sublinhou: « Se o mediador americano retornar ao Líbano, sabendo que continua a perder tempo à medida que o prazo expira, sem nos dar uma resposta definitiva da entidade sionista sobre a questão da demarcação das fronteiras marítimas libanesas, sobre os direitos do Líbano de explorar o seu petróleo e gás, caminhamos para escalação ».
E para continuar: “Se o acordo nuclear for concluído ou não, repito, se o Líbano não obtiver seus plenos direitos em termos de fronteiras ou em termos de exploração de seu petróleo, estamos caminhando para uma escalada”.
“Mesmo que todo o universo assine o acordo nuclear e o Líbano não tenha conseguido tudo o que exigiu em termos de direitos, estamos caminhando para a escalada. Tal situação será um teste para todos aqueles que pensam em nós com positividade”, disse Sayed Hassan Nasrallah.
Quanto à ocasião em si, sua Eminência dedicou a maior parte do seu discurso à ideia de conceber um local turístico do jihad em Janta, (o projeto, os seus objetivos) « Um lugar simbólico por excelência, pois, nesta terra o núcleo da resistência islâmica foi criado, com o apoio dos Guardiões da Revolução Islâmica”, especificou o líder do Hezbollah.
E para notar: « Um lugar de onde surgiram vários campos de treinamento em toda a região de Beqaa, e que se beneficiou do apoio do povo da região » acrescentando : »O campo de treinamento de Janta formou três gerações de mujahideen, este campo não foi apenas militar, mas um lugar de meditação, súplica, imploração, lágrimas, cerimônias de luto pelo Imam Hussein ».
Principais títulos do seu discurso:
Nesta ocasião, devemos lamentar a perda de uma mulher excepcional,que ocorreu dias atrás, uma mujahidah, a saber, a mãe do mártir Ahmad Qassir: Hajjé Fawziya Hamza. Este mártir cujo nome serviu como base e incentivo para todos os mujahideen que seguiram seu caminho e sua jornada: A da luta contra a ocupação israelense e americana, mesmo à custa de sua própria vida. Mas ainda assim, essa mulher é mãe de vários mártires, já que seus outros filhos também caíram como mártires. E assim, quero estender minhas mais profundas condolências à família Qassir.
Da mesma forma, é oportuno parabenizar, mas também apresentar nossas mais sinceras condolências à família do mártir Comandante Ibrahim Naboulsi na Palestina ocupada. Este palestino que caiu como mártir sob a selvageria criminosa da ocupação israelense. No entanto, todos os dias a Cisjordânia oferece mártires e, portanto, compartilhamos com os membros desta família seu sofrimento e sua dor, assim como compartilhamos seu sentimento de orgulho e dignidade para com seu filho que caiu pela única causa justa.
Por que a cidade de Janta?
Quarenta anos atrás, e após a invasão israelense do Líbano, não estava claro para onde essa invasão iria e como seria a situação do país. Por isso, naquela época, Imam Khomeini (S) tomou uma importante decisão histórica e enviou forças da Guarda Revolucionária Islâmica para a Síria, acompanhada por uma delegação de alto escalão em Damasco que se encontrou com o falecido presidente Hafez al-Assad, enquanto o Irã estava lutando em uma frente de milhares de quilômetros contra Saddam Hussein com o generoso apoio dos Estados Unidos e do Golfo.
Sua missão era impedir a continuação da invasão israelense, como o projeto que essa invasão não avançasse para a Síria, portanto, foi decidido mudar sua missão de combate para uma missão de treinar mujahideen no Líbano para ajudar os libaneses a lutar contra a ocupação israelense.
E assim, o plano mudou de manter uma força da Guarda Revolucionária na Síria para enviá-la ao Líbano para fortalecer a Resistência libanesa e oferecer apoio logístico e militar, transferindo conhecimento e experiência.
Na terra de Janta, havia um campo de treinamento e estava sob a guarda do Movimento Amal liderado pelo Sr. Hussein Al-Moussawi. O acampamento foi oferecido aos irmãos guardiões e eles residiam lá, e a primeira formação foi acolhida, e o primeiro a se juntar a ela foi o mestre dos mártires da Resistência islâmica, Sayed Abbas AL-Moussoaui, e alguns dos irmãos principais executivos da Resistência. Jovens de todas as regiões se juntaram às fileiras de treinamento no acampamento de Janta.
Janta foi o primeiro campo base e sediou o primeiro treinamento militar, lançou os primeiros começos militares organizados, depois os campos se espalharam de Janta para seus arredores e nos vales e colinas da região.
O primeiro treinamento terminou, aí foi seguido de vários, aumentando o número de mujahideen que se aglomeravam aos milhares, e assim Janta se tornou o símbolo da luta contra o ocupante, a espiritualidade e o jihad. Janta e seus acampamentos militares ganharam fama e marcaram o início da resistência islâmica, fundando o início da construção da estrutura de resistência e, portanto, Janta ficou conhecida por seus diversos acampamentos e não por único acampamento, e por este razão, toda a região foi objeto de vários ataques israelenses.
E assim, o povo de Janta e da região sofreu com as consequências, porém este povo foi realmente husseini, e não como aqueles que decepcionaram Imam Hussein em Kufa. A decisão dessas pessoas foi fundamental, pois, nunca lamentaram as repercussões da presença dos acampamentos. Durante os ataques, muitos mártires caíram e ficaram feridos e o sangue iraniano se misturou ao sangue libanês.
Esta terra de Janta formou a primeira, a segunda e a terceira geração de líderes da resistência islâmica. A terra de Janta serviu de terra para o jihad, formando a base das gerações dos lideres da resistência islâmica. Foi um lugar de meditação, súplica, lágrimas, cerimônias de luto pelo Imam Hussein e um fórum para todos os mujahideen onde havia uma atmosfera de convívio e fraternidade.
Lembro-me, (silêncio emocional em nome de sua eminência) numa das formações em que participei, e no ato da formatura, emoções, abraços, lagrimas, sentimentos de calor humano. Nossas relações sempre foram calorosas, longe de serem frias e oportunistas. Derramamos lágrimas, sofremos e rimos também, e por isso ter lágrimas nos olhos ou ser emotivo é sinal de humanidade.
Resumidamente,
Esses acampamentos acolheram seus homens de Deus, homens com a vontade inabalável e a coragem de um leão, mas ao mesmo tempo, têm um coração, uma bondade, uma misericórdia, cheios de compaixão. Esta terra representa uma importância sentimental, da qual Janta foi escolhida. Estas são as razões desta escolha.
Os objetivos da construção deste local turístico jihadista
Pretendemos através desta divulgação, reconstruir a história e a memória dos acampamentos de Janta e de todos os acampamentos do Beqaa, a dinâmica destes acampamentos serviu de catalisador, pelo que a sua memória deve ser preservada.
Também queremos reconstruir a história dos primórdios do nascimento da Resistência islâmica, para isso deixo aos profissionais da Arte, aos arquitetos concretizar esta ideia, mas também reconstruir a história do povo do Beqaa, para documentar como adotaram a opção de resistência, especialmente porque estavam plenamente conscientes das consequências de seu apoio a esses campos de treinamento de Janta, para reconstituir sua fé que deve ser refletida através deste local turístico, pois tem muito que ofereceram sua vida, seu dinheiro, sua casa. Como tal, lembro algumas dessas pessoas que não tinham dinheiro, ofereciam sabão, makdouss (berinjela) ou mel para campos de treinamento.
Além disso, queremos reconstruir a história desta região que suportou todas as agressões israelenses, os ataques com carros-bomba, esta região que acompanhou a Resistência desde seus primórdios até hoje. E isso em todas as áreas: logística, econômica, previdenciária, assumindo sua responsabilidade de lutar contra o ocupante.
É certo que com a retirada dos israelenses em 1985, essa responsabilidade diminuiu, mas este local também deve reconstruir a história da segunda libertação do terrorismo takfirista para preservá-lo para as gerações futuras.
Esta é a ideia deste local.
Deve-se notar que para este projeto ser legítimo, nós compramos há anos enormes áreas em torno deste local, e, portanto, este local será construído de acordo com a lei e gerará benefícios para o povo do Beqaa.
Quando este local turístico é construído, promoverá o turismo religioso e turismo de entretenimento.
Com efeito, esta região abriga no seu solo o túmulo do profeta Cheet (é o terceiro filho de Adão e Eva. É um antepassado de Noé) que segundo um documentário transmitido há alguns anos, viveu 912 anos. No entanto, há centenas de anos este mausoléu tem sido visitado por muitos fiéis de todas as religiões. E antes de 400 anos, um dos maiores estudiosos religiosos xiitas Zayn al-Din al-Jubai al-Amilli conhecido como alshahid althani, e cujos ensinamentos são estudados em todas as escolas religiosas muçulmanas, nascido em 1506 e falecido em 1559, visitou o Beqaa onde lecionou nas cinco escolas muçulmanas e, ao retornar, passou pelo mausoléu do profeta Cheet, descrevendo em seus escritos sua experiência espiritual durante esta visita.
Também temos o túmulo de nosso comandante em chefe, o mártir Sayed Abbas AL-Moussaoui, assassinado pelos israelenses com sua família.
Queremos também que este local seja capaz de promover o turismo de entretenimento, apenas o turismo, ou seja, restaurantes, hotéis, campos de verão, etc., especialmente porque o clima nesta região é muito puro, até sua água é cristalina e deliciosa, árvores frutíferas e arbustos, ainda é necessário incentivar este tipo de cultura. Assim, o campo de Janta terá de impulsionar a economia desta região. Naturalmente este local precisa de tempo para ser construído. Não é uma questão de meses, mas de anos, e seu financiamento terá que ser fornecido pelos doadores. Precisaremos da cooperação da população da região e dos municípios, e também dos ministérios envolvidos. Mas o ponto fraco deste projeto são as estradas que são estreitas e que devem ser reconstruídas.
A situação política no Líbano
1-A questão do petróleo
Há mais de uma semana que ouvimos muitas análises e comentários sobre o acordo nuclear e, com todo o respeito a certos observadores, todos parecem querer vincular a conclusão deste acordo com a questão da demarcação da área marítima fronteiras do Líbano e os direitos do Líbano de explorar e explorar seu petróleo e gás, a ponto de afirmar que, se o negócio for feito, poderá resolver os dois problemas! Tais conclusões são desprovidas de bom senso, para não dizer estúpidas.
Qualquer que seja o resultado das negociações relativas ao acordo nuclear, gostaria de salientar a demarcação das nossas fronteiras marítimas, a exploração do nosso petróleo não está de forma alguma ligada à celebração ou não do acordo nuclear.
Repito, se um acordo é assinado ou não e o mediador americano, que continua perdendo tempo enquanto o prazo concedido expira, não apresenta ao Líbano uma resposta definitiva em que os direitos do Líbano de explorar seu petróleo estão garantidos, estamos caminhando para uma escalada de conflitos armados.
E por isso garanto a alguns: « Não se engane em nenhum acordo concluído de que o Hezbollah largará suas ameaças ».
Mais uma vez, repito: « A questão dos direitos do Líbano de explorar o seu petróleo, a da demarcação das suas fronteiras marítimas nada tem a ver com a assinatura do acordo ou não: se o mediador americano nos der o que queremos, vamos para a calma, mas se, pelo contrário, ele insistir em nos fazer perder o nosso tempo que é precioso para o Líbano, então estamos caminhando para uma escalada e aqueles que duvidam disso, são limitados em espírito ».
Mesmo que todo o universo conclua o acordo nuclear, e nós, no Líbano, não obtenhamos nossos direitos, vamos escalar. Será um teste para todos que pensam em nós positivamente. Quanto aos outros, eles não aparecem em nossa agenda há muito tempo.
Em vez de manter os olhos em Viena, os libaneses devem manter os olhos nas fronteiras do sul do Líbano, em Karich e no mediador que desperdiça tempo.
2-O boicote de um libanês ao campeonato mundial de artes marciais nos Emirados Árabes:
Há poucos dias, o jovem libanês Charbel Abu Daher ia participar do campeonato mundial de artes marciais em Abu Dhabi, mas seu rival era um israelense. Charbel desistiu do campeonato por se recusar a enfrentar o jogador sionista expressando uma posição patriótica, prova de que os povos desta região se recusam a se normalizar com a entidade usurpadora e criminosa sionista. Quero aplaudi-lo e parabenizar sua família que provou que o patriotismo não tem religião.
As últimas pesquisas mostraram aos EUA que os povos a maioria da região acredita que a entidade sionista é um inimigo.
3-Dólar governamental e alfandegário
A adoção da taxa de 20.000 LL para o dólar aduaneiro é um grande salto prejudicial e inadequado, as repercussões de tal decisão devem ser devidamente estudadas.
Devemos insistir na necessidade de formar um governo o mais rápido possível.
4-O caso Salman Rushdie
Este incidente é muito importante, mas não vamos comentar sobre ele por enquanto porque ainda precisamos de alguns dados e detalhes. Quando a situação for esclarecida, definitivamente vamos corrigir nossa posição sobre este grande incidente.
FIM
Source: Al-Manar