Discurso do Secretário Geral do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, sobre os desenvolvimentos internos do pais dia 25 de Outubro .
Em seu discurso televisionado, o secretário-geral do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, descreveu a situação no Líbano, após nove dias de protestos populares como « delicada ou até ameaçadora ».
Destacando os pontos positivos e negativos desse movimento popular que começou, ao se lembrar de « espontâneo e justo », alertou « as pessoas que foram às ruas para expressar seu sofrimento e denunciar a corrupção e os corruptos que ameaçam o país, nesse sentido, que o Líbano se tornou um alvo regional e internacional através desse movimento ».
Sua eminência enfatizou que: « Esse movimento não é mais espontâneo. Foi arrebatado por partidos conhecidos por sua aliança com certas embaixadas e certos países, portanto o movimento passou em grande parte sob esse comando que se beneficia de financiamento estrangeiro suspeito e por isso, pergunto aos comandantes líderes deste movimento, que o lideram em certas reuniões, explicar às pessoas esse financiamento proveniente de uma embaixada ou país específico ou homem rico corrupto, para que possam avaliar se esse financiamento garante seus interesses e o do país ».
E para continuar: « Da mesma forma que os pedidos não são mais sobre os problemas econômicos ou sociais, fala-se em derrubar o regime, de que regime se fala? O Líbano não tem um regime, é confessional; se por regime se busca o confessionalismo, é perfeito! Porque somos os primeiros a pedir o fim do confessionalismo! Estamos falando de um vácuo constitucional, mas as pessoas não foram às ruas pedir um vácuo constitucional, algumas chegaram a pedir uma reunião do Conselho de Segurança para submeter o Líbano ao Cap. 7 da ONU ».
« Pior, como explicar que a entidade sionista permite que ex-agentes libaneses se manifestem na fronteira entre Líbano e Palestina, em solidariedade ao movimento? » Ele se perguntou.
E acrescentou: « O vácuo constitucional causara caos e, pior, estara a ameaçar o Líbano com a guerra civil, e nos últimos dias alguns sinais preocupantes nos lembraram desse período, como os obstáculos que certos elementos suspeitos impõem às pessoas que circulam em seu país: pedindo o cartão de identidade para os carros que passam.
Por fim, Sayyed Hassan Nasrallah exortou o público do Hezbollah a se retirar de todas as arenas e não se misturar ao movimento até que esse movimento possa definir líderes que os representem para discutir suas demandas por reformas com o Presidente da República. Especialmente o Presidente da Republica disse que ele estava pronto para receber representantes do movimento para discutir suas demandas.
Ideias principais deste discurso:
Hoje, o país vive episódios sensíveis e alarmantes, que exigem um discurso calmo e razoável, porque o período é muito delicado.
No meu discurso, lembrarei a posição do Hezbollah, depois avaliarei o movimento, conversarei sobre as soluções que surgem e avalio o que está acontecendo agora e concluo com uma posição clara e precisa do Hezbollah.
No sábado passado, dois dias após o começo do movimento popular, eu disse que este movimento popular era espontâneo, anticonfessional, social, apartidário e não depende de nenhuma embaixada ou interferência externa. Além disso, tenho defendido esse movimento e enfatizei que o Hezbollah não pode participar desse movimento porque ele o politizará, pois precisamos preservar seu caráter popular e transconfessional, e disse às pessoas que vocês podem ir às ruas expressar seu sofrimento, seu « NÃO » no que diz respeito à corrupção.
Especialmente que vocês podem se retirar quando quiserem e se nós formos à rua, não poderíamos nos retirar depois de atingir os nossos objetivos políticos.
Pontos positivos deste movimento:
Ninguém está explicando às pessoas os feitos e os pontos positivos que este movimento alcançou e que o acontecido não deve ser minimizado, principalmente porque podemos confiar nele para lançar reformas.
A- O movimento forçou o governo a definir o orçamento para 2020 com um percentual de déficit zero. Esta é a primeira vez na história dos governos libaneses que um orçamento é definido sem impostos, e assim podemos dizer que alcançamos os nossos primeiros objetivos, pois nas discussões dentro do governo, o tom sempre foi severo porque o orçamento para 2020 iria
incluir impostos.
B- Finalmente, uma folha de reforma foi definida. Esta folha é inédita porque inclui medidas excepcionais de combate à corrupção, certamente não atende todas as ambições, mas é muito importante. É um primeiro passo no processo da reforma do sistema. Nunca na história das reformas no Líbano houve uma folha dessas e, portanto, por que minimizar seu conteúdo? É por isso que me permito colocar um ponto de interrogação nessa implacabilidade para desvalorizar esta folha. Isto é suspeito. Nunca na história dos movimentos de protesto popular, vimos o seu povo minimizar suas façanhas, isso é ilógico. Além disso, esta folha inclui um cronograma para a realização dessas reformas.
O Hezbollah acredita que esta folha é essencial e deve ser executada e não permite que seja adiada.
O governo está determinado a executar essas medidas, porém solicitar eleições antecipadas não é a solução da demanda econômica e social. Isso é suspeito porque na opinião de especialistas internacionais, as demandas eram justas e legítimas e depois mudaram do foco.
C- As pessoas ganharam confiança em sua capacidade de desencadear um movimento econômico unificado, social, apolítico.
D- Esse movimento deu voz a todo libanês, qualquer que seja sua confissão, sua cor política, sua tribo, para expressar em voz alta, seu sofrimento a seu modo, esse movimento reuniu pessoas comuns, estudantes, famílias pobres, desempregadas, do sul, do norte, do centro, para reivindicar reformas justas e reais, que devem ser determinadas como uma meta do movimento.
E- O movimento criou uma nova atmosfera no Líbano, de modo que não há mais medo ou tabu para reivindicar reformas. E aqueles que estão no poder e estão fora, sentiram isso. Essa atmosfera abrirá oportunidades para todos, além da folha de reformas, que é um passo à frente, a primeira, também possui várias propostas de leis a serem submetidas à votação do parlamento que está determinado a se reunir. Ou a questão de levantar a imunidade penal e constitucional de todos os funcionários, ou a lei para retirar a proteção do sigilo bancário das contas dos líderes políticos, são projetos de lei que serão votados em breve no parlamento. Nenhum político receberá mais cobertura, as pessoas terão o direito de processá-los, de julgá-los.
Soluções:
O presidente estendeu a mão para os manifestantes, ele disse que está pronto para o diálogo, para negociar suas demandas de que ele próprio julgue justo. Ele pediu ao movimento que escolhesse seus representantes para que eles pudessem expressar suas demandas.
Porque, é bom protestar, ainda é necessário procurar soluções, e eu sei o que falo, pois nós, o Hezbollah, temos experiência nesse campo. E, portanto, vou esclarecer que qualquer solução em qualquer movimento popular deve se basear em uma regra de ouro: evitar a todo custo o vácuo constitucional.
Esse vazio pode levar a um caos especialmente no contexto de uma situação financeira, econômica e social difícil como a nossa, sem mencionar a situação regional. Isso levará a uma deterioração da estabilidade no Líbano e inabilidade do exército. A lei da selva prevalecerá liderando a guerra civil como aconteceu em outros países.
Agora, quando alguns pedem por trás desse movimento, a queda do governo, isso significa que entraremos no vazio. Isso é inaceitável, não é permitida a queda do regime, nem a renúncia do governo, nem as eleições antecipadas. Além disso, pergunto a vocês: » Estão falando sério sobre uma nova lei eleitoral? Vocês são capazes de concordar com uma nova lei? »
Sim, tememos o vazio porque significa caos. Nosso dever nacional, patriótico e religioso é proteger nosso povo da agressão israelense, do terrorismo do Daesh, mesmo que pagemos com nosso sangue. Da mesma forma, estamos prontos para proteger nosso povo, da corrupção, da opressão dos corruptos, à custa da nossa dignidade.
Alguns dizem que Hezbollah não tem direito de temer o vazio porque o nosso partido é acusado de impor esse vácuo por dois anos antes das ultimas eleições.
É verdade, porém as duas situações não são comparáveis. Antes de tudo, o nosso vazio, dois anos atrás, não paralisou o país, as pessoas continuaram suas vidas normalmente, indo trabalhar, nós não bloqueamos as estradas, a gasolina, o pão, a comida estavam asegurados. Hospitais, bancos, escolas e universidades estavam abertos ou funcionando normalmente. A única coisa que faltava era um presidente no palácio presidencial de Baabda. Por falta de presidente, o governo foi forçado a desempenhar as funções deste último.
Por isso, convoco aos manifestantes a escolherem entre si chefes, lideres que serão seus representantes, encarregados de negociar com o presidente e apresentar soluções. Sem sair da arena das manifestações.
Pontos negativos:
Bloquear as estradas é uma forma de rebelião civil, e isso pode ser feito para alcançar objetivos, não discuto esse princípio, porém discuto o momento em que este princípio é aplicado e prejudica as pessoas e impede os de locomover, isto é muito suspeito. Dada a atual situação econômica no país, portanto, se durante dias normais as pessoas reclamavam que não podem pagar suas contas mensais, imaginem o acontecido durante esses eventos.
O mais perigiso são as barragens que alguns suspeitos impuseram às pessoas que se dirigiam de carro, forçando-os a voltar atrás ou mostrar seu cartão de identidade. E pior, pagar dinheiro para poder passar! Estes incidentes nos lembram do início da guerra civil.
Agora, pergunto a essas pessoas que estão bloqueando as estradas: como sua ação serve ao movimento popular? Pergunte às pessoas do movimento popular se elas concordam em ser impedidas de ir ao trabalho? Então, por que fechar as estradas? Quem deve assumir essa responsabilidade? Se vocês desejam cortar as estradas, corte-as parcialmente para não paralisar o país e a atividades econômicas.
Alguns tentam criar uma atmosfera de tensão entre os manifestantes e o exército, outros no poder procuram treinar o exército para esbarrar contra os manifestantes, mas a única missão do exército é proteger a população e não separar ou prejudicar os manifestantes.
Como tal, lembro-me nos anos 80, durante o reinado de certo comandante em chefe do exército libanês, em setembro de 1983, foi pedido ao exército que separasse os manifestantes do Hezbollah no distrito de Hay El Soulom, para fazer isso, o exército disparou contra nós, os mártires caíram. É por isso que formalmente nos opomos a que o exército intervenha entre os manifestantes.
Esse movimento começou a ser popular, espontâneo, apartidário, apolítico, mas hoje esse movimento se tornou outra coisa, não é mais espontâneo, caiu sob os comandos de certos partidos conhecidos por sua aliança ou seus vínculos com certas embaixadas ou alguns países estrangeiros. Este movimento é dirigido através de várias reuniões, forças políticas, homens de fortuna. Esse movimento se beneficia do financiamento, de uma organização suspeita, sabemos quanto custa um protesto, em termos de logística, existem partidos que financiam, pergunto aos líderes ou àqueles que controlam esse movimento e que estão em arenas para explicar esse financiamento proveniente de uma embaixada ou país específico ou homem rico, para avaliar se esse financiamento preserva o interesse do Estado libanês.
Da mesma forma, as demandas não são mais sociais ou econômicas. O que está sendo falado é a queda do regime. O que significa uma queda de regime? O Líbano não tem um regime específico! Ele é multi confessional. Então vocês estão pedindo o fim do confessionalismo. É perfeito. Somos os primeiros a querer isso, mas, pelo visto, as pessoas não apresentam interesse nisso. Então, falamos sobre vácuo constitucional! Isso que as pessoas querem? Pior, outros pediram uma reunião do Conselho de Segurança, a fim de submeter o Líbano ao Capítulo 7 da ONU.
Podem abrir os arquivos de TV novamente e vejam os pedidos das pessoas, e podem ver a mudança no movimento, não é mais popular.
Para os manifestantes, pergunto: não é hora de definir um líder, um mandamento responsável por propor soluções e negociar com o presidente? Os manifestantes devem definir seu comandante para essa missão.
Existe um comando para esses movimentos? Sim, existe, mas está oculto, entre partidos, figuras influentes, forças políticas, homens de fortuna.
E assim, é dever dos manifestantes saber quem os lidera, quem pede fechar as estradas, recusar a reforma, quem pede que conspirem tal ou qual, de maneira provocativa e sistemática. Vocês podem conspirar espontaneamente, isso é normal em qualquer movimento de protesto, mas quando isso é feito de forma provocativa para criar obstáculos, isso é inaceitável.
Hoje, várias categorias lideram os comícios do movimento, há a categoria nacional, patriótica, outra inclui partidos políticos que estavam no poder e renunciaram , outra é conhecida por sua história na guerra civil, outra quer acertar contas, outra quer vingança, outro relacionado a embaixadas. Por isso avisamos que existem pessoas que financiam esse movimento, são os mais corruptos, porque defendem a corrupção. Tenho nomes das pessoas envolvidas em todas essas categorias.
Peço às pessoas que descubram com quem estao se metendo e para quem estão dando suas vozes. Que garantias eles têm de não ver seu movimento sendo explorado contra seus interesses? Como eles desejam se opor à corrupção, quando lhe é oferecido substituir um corrupto por outro? Na história de todas as revoluções, os corruptos são substituídos por um honesto patriota que garante os interesses do povo.
Falo com vocês como meus irmãos, e sinto que tenho uma responsabilidade com vocês e, portanto, aconselho todos os que comandam esse movimento nos bastidores, a substituírem os corruptos, a irem para justiça e desvendar as contas, revelá-las ao público em geral, trabalhar com honestidade com as pessoas.
Conclusão: Eu chamo nosso público a se retirar da arena
Eu fui o primeiro a chamar esse movimento de espontâneo, pois isso foi demonstrado nos primeiros três dias e avisei para não terem preocupações.
Com o acontecido nos últimos dias, tenho que mudar essa posição. Mesmo se eu rejeitar a teoria da conspiração, as nossas informações provam a existência da conspiração, e isto é fato não é uma análise.
O Líbano é um alvo regional e internacional, por isso convido as pessoas a ficarem atentos às mídias árabes e internacionais, redes sociais, temos um cenário diferente dos primeiros dias do movimento. Como explicar que a entidade sionista permite que ex-agentes libaneses demonstrem em suas fronteiras em solidariedade ao movimento?
Eu aviso as pessoas a não acreditarem no que as embaixadas dizem, não importa o que falam o que importa é o que fazem. Como embaixador dos EUA, que afirmou que os EUA querem preservar o governo.
Quero expressar nosso medo, quantos países estão em guerra civil, como Iraque, por exemplo. Por isso, temos que olhar bem ao nosso redor e ficar atentos sempre.
No equilíbrio das forças no Líbano, a resistência é a força política mais poderosa e até « Israel » teme sua existência por causa da resistência.
Mas se o Líbano é arrastado para a guerra civil, a Resistência é levada a esse tipo de confronto, que não representa mais uma ameaça existencial à entidade sionista. Nas reuniões a portas fechadas de diferentes partidos políticos, alguns apostaram em uma guerra entre o Irã e os EUA, mas suas esperanças desapareceram, porque os EUA se retiraram, essa escolha caiu.
● Concluindo, dirijo ao público da resistência, algumas vozes, expressaram um paralelismo entre a tragédia de Karbala, a luta do Imam Hussein contra a opressão, a corrupção e nossa posição em relação ao movimento popular, em nós acusar de abandonar o campo do Imam Hussein(as), isso é injusto!
O Imam Hussein(as) não é um líder local ou regional, porque carrega uma mensagem universal, atemporal, unificada, humana e certamente o projeto do Imam Hussein(as) é válido para toda a humanidade.
Se você deseja comparar esse movimento com o movimento do Imam Hussein(as), ele deve desfrutar das mesmas qualidades e atributos do último, mas se ele não tiver as qualidades do movimento do Imam Hussein, não compare.
No nosso ultimo discurso, no sábado, pedimos aos nossos membros, os apoiadores do Hezbollah e os nossos ativistas que não saíssem para a rua para não influenciar o movimento, mas parte do público desceu.
À luz de eventos recentes que são alarmantes, peço ao nosso público que se retire de todos os campos, certamente respeitamos as demandas dos libaneses, apoiamos, defendemos se necessário, sem descer à rua.
Source: Al-Manar