Discurso de Secretário Geral do Hezbollah, Sayed Hasan Nasrallah, sobre os últimos acontecimentos no Líbano e na região na cerimônia de celebração do festival « Alfabeto da Vitória » no final dos dias do « Quarenta anos de Existência », que aconteceu em Beirute, na segunda feira, 22 de agosto de 2022
Redação do site
O Secretário-Geral do Hezbollah, Sayed Hasan Nasrallah, disse em seu discurso na cerimônia de comemoração do 40º aniversário do Hezbollah, apelidada de « Quarenta Primaveras », que as duas vitórias em 2000 e 2006 encerraram o projeto de um Israel maior, derrubaram a lenda do invencível exército israelense e abortou o projeto do Novo Oriente Médio.
Referindo-se às façanhas da Resistência Islâmica que, segundo Nasrallah, são uma continuação dos movimentos da resistência que a precederam antes de 1982, citando, entre outras coisas, a entrada em ação da resistência para ajudar o Líbano a recuperar seus direitos de petróleo e gás offshore. Assegurando que as ameaças israelenses são inúteis.
Elencando os papéis desempenhados pelo Hezbollah nos últimos 40 anos, fundamentando a sua participação na construção do eixo de resistência no Líbano, com os palestinos, na Síria e no Iraque.
Ao final do seu discurso, expressou seu otimismo de que os desenvolvimentos internacionais e o equilíbrio de forças e fraquezas do inimigo sejam a favor do eixo da resistência e da verdadeira soberania.
Sayed Nasrallah discursou na tela diante de centenas de pessoas que se reuniram na Praça Achoura para as festividades nos subúrbios ao sul de Beirute e que acabaram de assistir um programa na ocasião, incluindo um panorama heliográfico misturado com cenografia que ilustra a história de 40 anos da Resistência Islâmica no Líbano.
Iniciou seu discurso assegurando que a experiência de resistência iniciada em 1982 não constitui uma ruptura com a ação de resistência que a precedeu.
“Quando falamos de 40 anos, tenho que esclarecer uma coisa importante. Não estamos cortando o vínculo com o que aconteceu antes de 1982. Há um vínculo profundo e fundamental com todos os esforços, as lutas, as ações que existiam antes de 1982”.
Entre outras coisas, sua Eminência listou muitas conquistas nos últimos 40 anos, assegurando várias vezes em seu discurso que a ação da Resistência Islâmica de forma alguma confisca a ação de outros movimentos que realizaram atos de resistência contra o inimigo israelense e reiterando que constitui uma contribuição entre outras:
== « Participação no enfrentamento da invasão israelense ao lado de todos os outros resistentes, liderados pelos irmãos do movimento Amal e em várias regiões, lançando operações de resistência sob um novo nome de Resistência Islâmica ».
== « A realização da libertação do ano 2000 com a participação de todos os combatentes da resistência das regiões do sul do Líbano, exceto as aldeias de Shebaa e as colinas de Kfar Chouba ».
== « A contribuição para a libertação dos detidos libaneses, o último dos quais foi o detento mártir Samir al-Qintar ».
== « Montar uma estrutura segura e operacional além de fortalecer o pensamento e a cultura da resistência em especial com as novas gerações ».
== « Desenvolver o ambiente popular e político de resistência ».
== « A lendária resistência durante a guerra de julho de 2006, além da vitória militar, política e da gestão política e militar conjunta. Um dos resultados dessa guerra foi abortar o projeto do Grande Oriente Médio sobre o qual Condolezza Rice estava falando além de acabar com o projeto do Grande Israel de uma vez por todas ».
Saudamos o papel da Sua Excelência o Presidente da República Emile Lahoud e do Presidente do Legislativo o irmão mais velho Nabih Berri e a solidariedade dos aliados e amigos.
== « Ultimamente a entrada da resistência em ação para o Líbano restaurar seus direitos offshore de petróleo e gás e a demarcação de fronteiras marítimas ».
== « Incutindo renascimento, dando esperança de que a vitória é possível contra este suposto exército sionista invencível ».
Segundo Sayed Nasrallah: « Na próxima etapa, será necessário desenvolver ainda mais a estrutura e as capacidades da resistência », sobretudo porque o inimigo israelita obtém ajuda dos EUA sempre, citando a recente entrada em ação do F35 para derrubar drones enviados pelo Hezbollah na Palestina ocupada.
Nasrallah saudou a equação: « Exército, povo e resistência », assegurando que deve ser reforçada porque se provou sua força de luta, ao contrário de outras equações apresentadas recentemente por protagonistas libaneses.
E para acrescentar: « É necessário trabalhar para libertar o resto dos territórios libaneses ainda sob ocupação israelense », observando que « Uma das missões a serem realizadas consiste em estabelecer equações de dissuasão para proteger a terra, dignidade, recursos e riqueza do Líbano”.
“Declaramos nossa disponibilidade permanente para discutir e planejar a fim de chegar a um acordo sobre a estratégia nacional de defesa”, insistiu, acreditando que deve ser unânime.
Acrescentou: “O prazo que se aproxima é a questão do petróleo e do gás e a demarcação das fronteiras marítimas, não direi um nada novo. Tudo o que precisávamos dizer já foi dito. Estamos todos esperando, e quem esperou mais de 10 anos pode esperar mais alguns dias. As ameaças do inimigo não valem nada. Nossa decisão e a nossa abordagem são claras, e estamos esperando o que os próximos dias trarão para decidir o que deve ser feito ».
Referindo-se à luta contra grupos terroristas takfiristas na fronteira com a Síria no leste do Líbano, o Sayed disse: « Conseguimos a Segunda Libertação, devido às forças da resistência, juntamente com o apoio dos habitantes do Bekaa e Baalbek-Hermel, além da participação ofensiva direta do exército libanês para libertar toda a região na qual grandes sacrifícios foram feitos, levando-nos a essa vitória ».
Sobre a causa palestina, Sayed Nasrallah disse: “Por 40 anos, acreditamos nesta causa anunciando sempre o nosso compromisso. A causa palestina é uma parte da religião, da cultura, de dignidade e honra da Ummah. Não se trata de desistir ou recuar. A origem da nossa estratégia é apostar na revolução e na resistência do povo palestino. Todos, sem exceção, devem dar-lhes assistência ».
Nasrallah continuou sobre o assunto dos refugiados palestinos no Líbano: « Durante 40 anos, adotamos medidas para resolver os problemas dos refugiados palestinos nos campos e monitorar seus direitos, dando o total apoio e em rejeitar seu assentamento e retornar à sua terra natal ».
Sua Eminência também reiterou sua rejeição a todos os projetos de normalização com a entidade sionista. Mais tarde, em seu discurso, ele saudou os dois jovens esportistas libaneses, Charbel Abou Daher e Nadia Fawwaz, que se retiraram das competições internacionais em Abu Dhabi porque tinham que competir com esportistas israelenses.
« Nossas expectativas são sobre esses jovens », disse ele.
Sobre a guerra na Síria, o líder do Hezbollah disse: « A Síria é um pilar do Eixo da Resistência e uma frente de resistência e rejeição às condições israelenses. Fomos à Síria e apoiamos os líderes, o exército e o povo sírio. A cada dia, estamos mais convencidos do que nunca da correção da escolha que fizemos. Se a Síria enfrentar uma nova onda semelhante à que enfrentou, não hesitaremos em ir lá novamente. É nosso dever agradecer aos nossos irmãos na Síria porque eles estiveram ao nosso lado por 40 anos, abriram suas portas para nós fornecendo proteção política, diplomática e de segurança”.
Observando que a situação na maior parte da Síria já está segura, Nasrallah considera que os sírios deslocados podem retornar para seu país, se não for a pressão política dos Estados Unidos e dos países da região, incluindo a Arábia Saudita, que também dificultam o avanço das relações entre Líbano e Síria enquanto esses países são a favor dos interesses do Líbano.
Segundo ele, Riad gostaria de privar o Líbano da sua soberania e liberdade e submetê-lo ao seu ditame. O que é inaceitável.
No entanto, o Sayed expressou o compromisso do Hezbollah com a política de solidariedade com os povos árabes no futuro para o qual « Estamos prontos para arcar com as consequências porque é uma posição justa ».
Sobre o Iraque, Nasrallah indicou : »Que o Hezbollah tem contribuído, na medida das suas capacidades, para combater o Daesh, assegurando que não hesitará em vir em socorro deste país se for novamente exposto a esta ameaça e pedido ».
Em relação à República Islâmica do Irã, Sayed Nasrallah a descreveu como uma grande potência regional da qual dependem todos os resistentes e oprimidos da região, apesar das pressões exercidas sobre ela, incluindo sanções.
Nasrallah indicou ainda que “O Hezbollah contribuiu para a formação do Eixo da Resistência ».
“Nós fazemos parte disso e continuaremos neste caminho. Apostamos nele como um eixo de poder capaz de enfrentar projetos de dominação, ocupação e autoritarismo”.
Sobre as conquistas do Hezbollah no Líbano, Nasrallah continua: « Por 40 anos no Líbano, evitamos afundar em qualquer guerra civil ou luta sectária. Isso era o que estava sendo preparado para o Líbano em 2005, após o martírio do Primeiro Ministro Rafic Hariri, mas nós cooperamos com as forças políticas, a corrente do Futuro, o movimento Amal e o Partido Socialista para evitar que o Líbano entrasse numa guerra civil de novo. Desde 2008, a essência da aliança quadripartidária conseguiu evitar os conflitos armados. Devemos lembrar uma cena que permanece muito dolorosa e perigosa para a paz civil é a massacre de Tayouneh, onde caíram vários mártires, colocando o Líbano diante de uma guerra civil, se não fosse à paciência do povo e das famílias dos mártires e sua previsão, paciência e decisão ».
Sobre a relação entre o Hezbollah e o Exército Libanês, destacou a complementaridade que o distingue, alertando contra a vontade dos Estados Unidos de empurrá-los ao confronto, como aconteceu em 1993.
“Alguns queriam durante a ofensiva israelense de “Acordo de Pontuação” que o exército libanês se posicionar ao lado do exército israelense que ocupava os territórios nacionais. Mas naquela época, o comando do exército se recusou a enfrentar a resistência no sul”.
Referindo-se ao fato ocorrido no mesmo ano, quando soldados libaneses abriram fogo contra pessoas manifestando se contra o Acordo de Oslo, portanto, o Sayed acusou oficiais do exercito de ter atirado e que não tiveram ordem do comando do exército, assegurando que esta foi uma grande brecha entre os que estavam entre povo e exercito.
“Os subúrbios do sul, pela maturidade de seus habitantes e de suas tribos, impediram a discórdia”.
Sobre as relações inter-libanesas do Hezbollah, Nasrallah continuou: « Dentro do Líbano, por 40 anos, estabelecemos amizades e alianças com muitas forças islâmicas e nacionais. Valorizamos nossos relacionamentos e nossas amizades ».
Sayed observou ainda que o Hezbollah continuará fazendo parte da tribuna parlamentar e dos municípios.
Acrescentando: « Continuaremos preocupados em nos dar bem com o Movimento Patriótico Livre, para fortalecer e desenvolver esse entendimento, particularmente em questões importantes e fundamentais ».
Sobre a relação com o movimento Amal, Nasrallah disse: « Uma das conquistas dos 40 anos foi mudar a relação entre o Hezbollah e o movimento Amal de uma posição negativa para uma muito positiva. A relação agora é baseada em cooperação e coordenação, chegando até mesmo ao estágio de integração ».
Sayed Nasrallah observou que “Continuaremos a participar de governos no futuro, pelas mesmas condições e razões, para defender os interesses do povo e para uma visão política mais clara da situação interna. Estamos sempre dispostos a cooperar. Antes de 2006, tínhamos posições políticas sabidamente hostis às políticas econômicas e financeiras seguidas e na maioria dos casos não confiávamos no governo, mas estávamos sempre dispostos a cooperar ».
« No entanto, no Documento Político de 2009, fundamentamos nossa visão: O fato do que o Líbano é a pátria definitiva de todo o seu povo e a necessidade de construir um Estado justo e poderoso, gozando de verdadeira soberania, liberdade em suas decisões, para não fique sujeito a nenhuma ordem da embaixada americana ou qualquer dominação estrangeira ». Relatando a interferência cada vez mais flagrante da embaixadora americana nos assuntos de certos ministérios libaneses para impor suas ordens.
Nasrallah enfatizou: “Continuaremos a servir as pessoas em todos os campos, em todas as instituições e regiões, apesar do embargo, das sanções, pressões e ameaças dos países que nos dão dinheiro. Consideramos que servir as pessoas é o mais alto ato de doação ».
Assegurando que o Hezbollah está totalmente comprometido em salvar a situação econômica dos libaneses, lembrando que o partido lançou seu projeto anticorrupção.
« Dissemos desde o início que esta é uma longa batalha e devemos continuá-la, tendo como base alcançar uma justiça imparcial e independente. »
Assegurando apostar na nova geração, que levarão a bandeira e concretizarão os objetivos e as esperanças, manifestou-se otimista quanto à situação no futuro: « A nossa leitura dos desenvolvimentos internacionais e regionais mostra que as coisas são do interesse dos nossos povos, a favor da liberdade e da verdadeira independência e o Eixo da Resistência”.
Sayed Nasrallah terminou seu discurso prestando homenagem ao líder supremo do Irã, Aiatolá Ali Khamenei: « Por 40 anos, ele foi como um pai terno, sábio e corajoso e nunca nos abandonou. Imã Sayed Ali Khamenei tem um grande mérito pela resistência. As pessoas não sabem disso e talvez nunca saibam. Ninguém consegue descobrir o valor que este Imã ofereceu, pelo Líbano e pelo mundo árabe, até o dia do Juízo Final”.
(FIM)
Fonte: Al Manar