Discurso do líder do Hezbollah, Sayed Hasan Nasrallah, dia 08 de janeiro de 2021, relatando os últimos assuntos políticos e desenvolvimentos nacionais.
Observando, « a gravidade dos acontecimentos que eclodiram nos últimos dias em Washington », o líder do Hezbollah Sayed Hasan Nasrallah fez questão de iniciar seu discurso inteiramente dedicado ao arquivo libanês como havia anunciado há poucos dias, com um comentário sobre o que aconteceu nos EUA recentemente, alertando o mundo sobre a loucura do Trump.
Durante um discurso transmitido pela televisão, Sayed Nasrallah considerou que « dada a periculosidade dos últimos eventos que eclodiram dentro dos limites do Congresso dos Estados Unidos, causando mortes e ferimentos entre os manifestantes, é apropriado estudar e analisar esses incidentes que constituem um acontecimento sem precedentes na história dos EUA”.
“E por boas razões”, sublinha a sua Eminência, “Estes incidentes revelaram a face da democracia dos Estados Unidos, e interessante que o povo americano notou as más ações das políticas de Trump praticadas durante sua gestão em todo o mundo. Os americanos viveram apenas uma pequena parte dos crimes do Trump cometidos na região, incluindo o crime contra os dois comandantes Abu Mahdi e Soleimani”.
O Secretário Geral do Hezbollah afirmou que: « Trump representa um exemplo de opressão e tirania, trazendo uma democracia estéril, pois esta democracia permitiu que tal homem se tornasse presidente dos EUA e liderasse não só os EUA, mas também o mundo ».
E continua: “Devemos agradecer ao bom Deus por nos ter permitido resistir nestes últimos anos à loucura do Trump e rezar para que estes últimos dias que nos separam de 20 de janeiro sejam pacíficos porque o botão nuclear está nas mãos de um homem louco”.
Em relação ao arquivo libanês, sua Eminência abordou várias questões:
– O Porto de Beirute e a investigação
– Alqard Alhassan: a instituição de microcréditos da resistência
– O caso italiano: a carga de capatgones
– A formação do governo
– O coronavírus
PRINCIPAIS PONTOS DO DISCURSO:
Antes de falar do Líbano, é aconselhável refletir sobre os graves incidentes que eclodiram nos últimos dias em Washington e as suas consequências sobre a situação dos EUA no mundo: De fato, Trump pediu uma manifestação em Washington e reuniu seus partidários para instá-los a protestar contra a certificação da vitória do Biden no Congresso americano. Poucas horas depois, manifestantes invadem o Congresso, entram em seu recinto, surpreendendo os deputados que tiveram que deixar o local sob escolta policial, instalada em uma das Câmaras, resultando mortos e feridos.
Esse panorama que os EUA costumam causar em diversos países do mundo, como na Venezuela e no Líbano, traz em si consequências perigosas, portanto, não podemos levar seriamente em consideração seus indicadores, seja Biden, Democratas ou mesmo Republicanos, até mesmo Netanyahu condenou esses incidentes.
Portanto, esses atos merecem analises, pois revelam a verdade sobre a democracia americana e suas reivindicações, abrindo os olhos do povo americano sobre os crimes e os delitos da política do seu presidente no mundo.
Trump é um exemplo do tirano sedento de poder e sangue, além disso, não devemos esquecer Pompeo que se gabava da democracia americana, pedindo constantemente o respeito pelos manifestantes em outros países, enquanto há feridos e mortos nas manifestações de seu país sem nenhuma condenação.
Trump convocou rebelião, incitou violência e 24 horas depois, ele se retratou e afirmou o contrário. Assim o Trump me lembrou de um versículo do Alcorão na Sura ALHACHR, versículo 16: « Eles são como o diabo quando diz ao homem: ‘Seja incrédulo’, então, quando ele não acreditou, o diabo disse: Eu o rejeito porque temo Alá, o Senhor do Universo ».
Outro incidente que deve ser considerado, mas local:
Quando descrevi a situação real no Líbano em nível internacional, uma chuva de reações libanesas caiu na mídia, indignada com minhas palavras. Só para evitar confusão, quero lembrar que quando disse que ninguém no mundo está interessado no Líbano e se há interesse internacional no Líbano é apenas por causa dos nossos mísseis de grande porte e precisão. Falando isso, eu descrevi uma realidade, porque desde a retirada da Síria do Líbano, os americanos, os europeus, as conferências e os encontros entre as autoridades americanas e libanesas, todos mencionaram apenas uma coisa sobre o Líbano: os mísseis do Hezbollah.
Você pode revisar as atas oficiais de suas reuniões, elas estão arquivadas: seu principal interesse são as armas da Resistência e nada mais. De Pompeo a Pence ou qualquer um no governo dos Estados Unidos, o que interessa ao mundo no Líbano são apenas os mísseis de alta precisão da Resistência. O Líbano nada significa para eles, e muito menos os libaneses, o que os interessa é resolver a questão da segurança de Israel, ponto final.
1-O porto de Beirute e o levantamento:
A explosão do porto de Beirute é um assunto nacional que afeta todos os libaneses, sem ser um caso confessional que afeta uma denominação, ou um caso regional que afeta uma região ou um bairro ou uma área, nem mesmo um assunto político que afeta um partido, pois é um assunto humanitário libanês. A economia libanesa como um todo foi afetada, este assunto não deve ser explorado em um nível religioso, político ou econômico.
E nós, como partido político, insistiremos para que este processo chegue a um fim justo e honesto, por duas razões, a primeira é a causa humanitária, pois houve mais de 200 mártires, sem falar dos feridos, e os grandes danos materiais nas vizinhanças do porto.
No entanto, após cinco meses desde a explosão, nada foi revelado. As investigações do Exército Libanês e das forças de segurança terminaram e ninguém teve a decência de informar o povo libanês dos resultados. Eu faço a pergunta aos militares, por que não revelaram ao público os resultados da sua investigação? As famílias dos 200 mártires tem o direito de saber a verdade ou pelo menos saber o que aconteceu.
A segunda razão é que desde as primeiras horas da explosão, as acusações foram levantadas contra nós, o Hezbollah, apontando para as armas do nosso partido, depois para o Presidente Aoun, e a Corrente Patriótica Livre como um aliado cristão do Hezbollah, para desacreditá-lo diante do nosso público.
Muitas perguntas permanecem sem resposta, após cinco meses, não ficou claro quem transportou os nitratos para o Líbano. E quem foi o beneficiado? Qual é a causa da explosão: um míssil disparado de um inimigo, um ataque ou um ato de negligência?
E a investigação judicial? O juiz parece favorecer a condenação administrativa por ato criminoso! Pior ainda, as acusações contra o primeiro-ministro Hassan Diab e os ministros que renunciaram não são baseadas em uma base criminal ou em uma lei, mas em uma contagem de 6 e 6 bis. Então ele acusa certo de confissão xiita, outro de confissão sunita, outro de confissão maronita e assim por diante?!
Devemos corrigir o processo da investigação e o alcance judicial deste processo, devemos anunciar os resultados da investigação para que as pessoas conheçam os fatos e tenham conhecimento de todos os processos judiciais. E não manter esse caso aberto para poder explorá-lo contra o povo ou mesmo chantageá-lo.
2- Alqard Alhassan:
Esta instituição já percorreu um longo caminho antes de se tornar um sucesso financeiro, hoje. Porém, ultimamente ele está nas manchetes da mídia, nunca imaginei, que um dia tivesse que falar sobre isso, até porque é uma empresa sem fins lucrativos que se contenta em conceder microcréditos.
Fundada em 1983 e registrada como organização não governamental desde 1987, Alqard Alhassan, por um lado, coleta depósitos não pagos de acordo com os princípios das finanças islâmicas, em dólares ou liras, e, por outro lado, concede microcréditos.
Essa empresa é um fruto da iniciativa de vários amigos juntos e, portanto, não foi o Hezbollah que a criou, então, quando o Hezbollah se fortaleceu, essa instituição pôde se beneficiar do apoio do Hezbollah.
O objetivo é ajudar as pessoas que precisam de dinheiro e não podem ir aos bancos para pegá-lo por causa das taxas de juros e com um sistema financeiro meticuloso.
Essa instituição evoluiu muito lentamente, porque depende dos depósitos dos contribuintes e, portanto, seu capital não vem de dinheiro iraniano.
Em suma, essa instituição concede microcréditos sem juros, no limite de US $ 5.000 para atender a diversas necessidades, como casamento, compra de carro ou necessidades pessoais.
O sistema de endividamento desta instituição baseia-se no fato de que se o cliente deseja se beneficiar de um empréstimo, este deve ser garantido por um depositante ou hipotecar um objeto ou joia de ouro. Os custodiantes aceitam que esta instituição use seu dinheiro para ajudar as pessoas a obterem empréstimos.
O sucesso desta instituição desde 1980 resume-se ao fato de não correr riscos em grandiosos investimentos ou projetos comerciais, pelo que o valor do empréstimo não pode ultrapassar 70% do valor da hipoteca, este o que permite que ela se proteja do risco, ela não tem lucro. Essa é a diferença com os bancos.
A experiência mostra que por 36 anos ninguém perdeu dinheiro em Alqard Alhassan, mesmo quando foi bombardeado em 2006.
Esta instituição é governada por um partido em quem confiamos e a sua direção é muito competente. O número de depositários aumentou desde 2015, bem como os empréstimos devido :
-Da confiança que as pessoas têm nesta instituição
– Falência dos bancos
– Sanções dos EUA no Líbano contra o Hezbollah e o comportamento dos bancos em relação às pessoas que recorreram a nós para depositar seu dinheiro.
– A crise bancária, a política monetária, etc., as pessoas retiraram seu dinheiro e o depositaram no Alqard Alhassan.
Estas são as causas do desenvolvimento desta instituição:
A instituição está aberta a todas as pessoas, todas as crenças, não é partidária ou confessional, até estrangeiros podem depositar seu dinheiro lá: sírios, palestinos…
Mas as pessoas preferem ir aos bancos porque há juros, enquanto em Alqard Alhassan não há juros. Ainda hoje esta instituição possui filiais e está pronta a funcionar em várias regiões.
O número de clientes que usufruíram de empréstimos é estimado em 1 milhão e 800 mil pessoas, o valor dos empréstimos é desde o seu início: 3 bilhões 575 mil dólares. Essa instituição está inclusa na lista oficial existente no país, lista do mesmo tipo e denominações, portanto, o seu trabalho não é segredo!
Esta instituição não financia o Hezbollah, não tem meios financeiros para isso, pois não é lucrativa, é uma oportunidade que dá apoio financeiro às pessoas.
Então, em sua opinião, é melhor ficar com o dinheiro em casa ou depositá-lo no Alqard Alhassan onde será investido a serviço dos mais necessitados? Saber que esse depósito será benéfico para o seu depositário tanto neste mundo inferior como no além, pois com esse depósito os mais pobres conseguirão sobreviver, ao passo que se você guardar o seu dinheiro em casa, não vale nada.
Um dos meios de comunicação libaneses questionou os prejuízos que esta instituição pode causar à economia do Líbano, por não pagar impostos. Pensei nessa questão e concluí que ela reflete inveja e ódio.
Esta instituição não é um banco, não tem juros e, portanto, não colhe nenhum lucro, então em que se baseia o pagamento dos impostos? Claro, seus funcionários pagam seus impostos com seus salários.
E assim, quando alguns libaneses viram o sucesso desta instituição enquanto a crise econômica e bancária estavam em pleno andamento, eles apresentaram relatórios falsos aos americanos e estes impuseram sanções a ela e, recentemente, a instituição sofreu um ataque cibernético aos seus dados, a fim de aterrorizar os usuarios e dissuadi-los de depositar seu dinheiro.
Quem teme as sanções, basta retirar o seu dinheiro, não se preocupe com o futuro desta instituição, ela não vai falir, porque tem capacidade e competência. Eu convido as pessoas a depositarem seu dinheiro em Alqard Alhassan como uma resposta às suas sanções, pois terao uma recompensa no futuro.
3-Caso italiano: a carga de captagones
Duas semanas atrás, alguns meios de comunicação desencadearam um caso que data de julho.
O caso estourou na Itália, quando as autoridades italianas confiscaram uma carga de captagone no valor de mais de um bilhão de dólares, cujos jornais italianos haviam informado que essa carga pertencia ao Daesh ou os grupos terroristas islâmicos.
Em 04 de agosto, os Estados Unidos publicaram um artigo alegando que este carga pertence a um grupo do Oriente Médio e outro jornal alegou que pertencia ao Hezbollah. Finalmente, o Jerusalém Post informou que este carga estava voltando para o Hezbollah.
No Líbano, a mídia explorou essas mentiras e condenou o Hezbollah. Nós ficamos atentos e acompanhamos o caso para descobrir quem estava nos acusando.
Em primeiro lugar, verificamos este assunto com as autoridades italianas e fomos informados de que nenhuma acusação foi feita ao Hezbollah pelas autoridades italianas. E assim, as alegações foram uma invenção da mídia.
Gostaria de dizer à opinião pública árabe e libanesa que esse tipo de denúncia feita contra nós faz parte de uma velha campanha que, a cada oportunidade, busca prejudicar nossa reputação de integridade.
Todos conhecem a nossa posição em relação às drogas: o tráfico, produção, venda e consumo de qualquer droga é ilegítimo, ilícito e proibido ou mesmo sancionado pela Sharia islâmica com pena de morte.
Mesmo dentro do Hezbollah, temos um órgão ou escritório de tribunal que tem a função de punir qualquer membro do Hezbollah que tenha fabricado, vendido ou comprado um grama de drogas. Este membro será demitido do partido, ficará privado do seu salário e subsídios de forma permanente.
Além disso, todas as nossas altas referências religiosas condenam e proíbem a exploração de drogas até mesmo pelo inimigo.
Quanto à mídia libanesa, saiba que você nos ataca com suas difamações, e isso é inaceitável e intolerável. Devemos parar este tipo de agressão por meio da justiça, ou através do conselho nacional da mídia ou através das pessoas que devem protestar contra esse tipo de difamação. Não podemos aceitar que nos chamem de criminosos.
4-A guerra contra a corrupção:
Tenho repetidamente afirmado que somos sérios na luta contra a corrupção, com as provas de apoio perguntamos aos juízes se intervimos para encerrar certo caso de corrupção.
Apoiamos todas as formas de luta contra a corrupção, mas quero que essa luta seja feita pela justiça, mas alguns querem que eu denuncie este ou aquele outro corrupto por meio de minhas declarações. Isso cria discórdia, causa guerra indesejável.
A justiça sofre com duas fragilidades: a reforma da justiça, para que a justiça abra os casos e a seleção e politização dos casos, então quando você abre um caso e fecha outro, dá a impressão ao público que, há um acerto de contas político via judiciário, que o desacredita.
A justiça e a luta contra a corrupção não devem ser politizadas. A solução é adotar uma referência neutra única para abrir todos os processos, por exemplo, abrimos um inquérito criminal a todos os ministérios de serviço ou a todas as pastas ministeriais, assim ninguém se sentirá condenado. E ninguém pode se envolver na investigação.
Eu avisei que erradicar Israel é mais fácil do que erradicar a corrupção.
Formação de 4 governos:
As causas da não formação do governo são complexas e, portanto, as acusações estão a todo vapor. Para resumir, invocamos a causa da não formação do governo é o Hezbollah que aguarda a chegada de Biden, então acusamos Saed Hariri para evitar a formação do governo sob o pretexto de que teme sanções contra ele e, portanto, ele também espera a saída de Trump.
De qualquer maneira, faltam apenas alguns dias para a partida de Trump. Portanto, não adianta falar nisso e se algumas pessoas esperarem até que haja negociações iraniano-americanas antes de formar um governo, eu os asseguro, não há negociações americano-iranianas, porque os iranianos não tem interesse em voltar ao negócio até que haja a remoção de todas as sanções.
Algumas pessoas estão esperando para ver o que Biden planeja fazer para se decidirem a formar um governo. Mas eu digo a eles: « Parem de apostar no mundo exterior que está preocupado apenas com suas crises e grandes problemas. »
Dito isto, não devemos culpar um único partido pela não formação de um governo, todos os partidos têm receios e, portanto, o verdadeiro problema reside na falta de confiança entre eles. Por exemplo, pasta do ministro da justiça é assustadora porque quando os arquivos serão abertos, a questão líquida não está na natureza dos ministérios, mas na confiança pois todos querem garantias de que não serão visados.
5- Corona vírus:
Os números são alarmantes: Em 2020, eram 210.000 infectados, enquanto os que se recuperaram são apenas 1.500, sabendo-se que esses números não são confiáveis porque muitos estão contaminados sem saber disso, e o número de mortes chegou a de 1.550.
O que devemos fazer?
Uma controvérsia surgiu entre o confinamento total ou parcial e isso por causa da crise econômica. Isso não é exclusivo do Líbano, mas em todo o mundo, os estados mais poderosos estão sofrendo com as consequências econômicas do covid-19.
Mesmo que o governo esteja dando o melhor de si para nós proteger da epidemia, este trabalho está desorganizado e, portanto, não se deve esperar tudo do governo, a responsabilidade é do povo também, o povo não está ciente, enquanto a gente afirma e sublinha que o fato de expor a vida do outro ao perigo é um crime em si, é inaceitável que um pai volte para casa e se comporte como se nada tivesse acontecido. Escolas, universidades, mesquitas, clubes esportivos estão fechados e de repente estamos celebrando um casamento, um jantar, uma festa, como pode ser isso?
Devemos organizar uma campanha geral com a participação de todas as partes e partidos dignitários religiosos para condenar as violações.
Fonte: Al-Manar